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Por um tempo, esqueça tudo o que já ouviu falar sobre posições de direito à morte ou de direito à vida. Deixe de lado as decisões judiciais. Tire de sua mente as histórias de impacto sentimental que viu em filmes ou leu na internet.

Agora, sem ninguém saber seus pensamentos, posso perguntar: “Você sabe quando é certo morrer? Para você? Para sua família?” Sei que esta pode não ser uma questão teórica para você. Talvez você mesmo pudesse escrever uma história da vida real de grande impacto sentimental. E talvez você já tenha decidido sobre como e quando deseja morrer. Seja qual for sua resposta, desejo que você saiba que sua decisão é importante.

Isto tem importância maior do que você se dá conta.

O Papel da Sociedade na Decisão de Morrer

Deixe-me explicar. Uma vez, participei de um comitê nacional que elaborou uma importante proposta legislativa sobre direitos civis. Meu marido, Ken, que na época era professor de administração pública numa escola secundária, pediu-me para falar a seus alunos sobre o assunto da legalização da eutanásia. Isso foi bem antes da Califórnia legalizar a morte auxiliada por médicos, mas já havia muitas iniciativas testando as águas. O Ken queria que eu expusesse a seus alunos as ramificações de uma lei de direito à morte. A sala de aula estava cheia de crianças de pé ao longo do fundo e apoiadas contra os quadros-negros cobrindo as paredes.

Fiquei surpresa com o quão interessados ficaram quando lhes contei sobre meu desespero de tempos atrás. Admiti perante eles que me sinto aliviada porque na época que eu estava no hospital e ligada a aparelhos, não havia lei de direito à morte. Então ressaltei o quão crítico era para que cada aluno se informasse e se envolvesse na definição da resposta da sociedade ao problema. Então, acrescentei: “Qual papel você acha que a sociedade deve desempenhar para ajudar as pessoas a decidir quando é certo morrer?”

Algumas mãos se ergueram. Pude notar por suas respostas que eles sentiam que a sociedade deveria agir para ajudar pessoas em dor constante ou no leito de morte; alguns estudantes insistindo pela vida, por mais oneroso que fosse o tratamento, e alguns que desejavam ajudar, apressando o processo de morte.

A Sociedade é Você

Um estudante compartilhou a forma como sua mãe ficou destroçada pelo fardo de cuidar de sua irmã com atrasos no desenvolvimento. Ele sentia que a sociedade deveria, em suas palavras, “fazer alguma coisa”.

“Tal como?” desafiei, um pouco de brincadeira.

“Tipo . . . Não tenho certeza, mas a sociedade deve se envolver mais na vida de pessoas como minha mãe “.

Olhei para o Ken. Ele acenou com a cabeça, como me dando autorização para desafiar um pouco mais este jovem. “Posso perguntar o que você fez para se envolver mais?”

O estudante sorriu e encolheu os ombros.

“Como você ajudou a aliviar o fardo? Você levou sua irmã para passear recentemente? Foi com ela à praia? “, provoquei. “Você se ofereceu para fazer compras para sua mãe? Talvez sua mãe não fique tão destroçada, talvez ela não se sinta tão estressada ou sobrecarregada, se você arregaçar as mangas um pouco mais para ajudar.”

Alguns de seus amigos perto do quadro-negro riram e jogaram bolas de papel nele. “Ok, ok, entendo seu ponto”, ele sorriu.

Eu sorri. “Meu ponto é o seguinte: a sociedade não é um grupo de pessoas que estão por aí, que se sentam ao redor de grandes mesas e pensam em tendências políticas ou derivações culturais. A sociedade é você. Suas ações, suas decisões, são importantes. O que você faz ou não faz tem um efeito cascata em todos os que estão à sua volta. E em uma escala menor, seu envolvimento pode até fazer uma grande diferença sobre o que sua família escolherá fazer com sua irmã”.

A sala de aula ficou em silêncio, e eu sabia que a lição havia atingido seu alvo. Fiz uma pausa, examinei o rosto de cada aluno e fechei dizendo: “Vocês, meus amigos, são a sociedade”.

Portanto, seu ponto de vista é importante. Você pode ser aquele que defende ferozmente desligar a tomada, ou aquele que luta para manter um coração bombeando até o fim. Qualquer que seja sua escolha, você deve saber aquilo que John Donne escreveu, ou seja: nenhum homem é uma ilha.

A Sociedade está Interligada

Somos pessoas demasiadamente reservadas. Gostaríamos de tomar uma decisão de vida ou morte no vácuo ou mesmo longe do alcance de outros. Mas não podemos fazê-lo. Seu ponto de vista e suas ações (por exemplo, se você estiver deitado num leito com uma doença terminal), não são só importantes para você e sua família; são importantes para uma ampla rede de amigos e associados também. Em outras palavras, para a sociedade. O direcionamento de nossa cultura, então, é influenciado por sua decisão de desligar a tomada ou de se apegar à vida.

Quando alguém afirma que sua morte é de sua própria conta e “daqueles a quem amo”, não está considerando o significado de sua decisão no círculo mais amplo da vida. A decisão de reduzir o tempo de vida, mesmo que apenas alguns meses, não se restringe “àqueles a quem eu amo”, mas afeta toda uma rede de relacionamentos: amigos, antigos colegas, professores, membros distantes da família, conhecidos e até enfermeiros e médicos que, ocasionalmente, se chegam ao lado de seu leito.

Qual efeito poderá ter sua decisão? Sua escolha corajosa de enfrentar o sofrimento forçará outros a seu redor a notarem o que você está fazendo. Isto fortalece o caráter de uma sociedade solidária. Quando pessoas observam perseverança, resistência e coragem, sua própria fibra moral é reforçada. Por outro lado, sua escolha de abandonar a vida pode enfraquecer e de fato enfraquece, a determinação moral da mesma sociedade.

Se você crê que sua decisão é pessoal e independente, reconsidere. Sua escolha de acelerar o processo de morte é como jogar um jogo delicado de palitos. Você levanta cuidadosamente uma vara, esperando não perturbar a intrincada rede. Quando você acha que conseguiu, no entanto, sua ação independente altera o frágil equilíbrio e derruba outros palitos.

Tal como o apóstolo Paulo escreveu em Romanos 14.7, “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si.”

Nota do editor: Este é um trecho adaptado de “When Is It Right To Die?: A Comforting and Surprising Look at Death and Dying” [Quando É Certo Morrer?: Um Olhar Reconfortante e Surpreendente Sobre a Morte e o Morrer] de Joni Eareckson Tada. Copyright © 2018 de Joni Eareckson Tada. Usado com permissão da Zondervan. Todos os direitos reservados.

Traduzido por Marq

 

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