“Você sabe que isso seria muito mais fácil se você simplesmente a deixasse. Você tem todo o direito bíblico de fazê-lo.”
Estas palavras bem-intencionadas vieram de um amigo e confidente. Minha esposa Angel, e eu estávamos tentando reparar um casamento completamente esfrangalhado. Após vários anos de descaso por mim, minha esposa havia rejeitado a Deus e a mim enfaticamente, e começado uma série de casos amorosos.
Mas ela havia se arrependido e estávamos tentando, junto a conselheiros e mentores, passar por um processo de cura e restauração. O problema era que o que começara com a confissão de um caso se transformou em muitos outros. Eu fiquei arrasado, quebrado e entorpecido. Meu amigo estava exasperado. Nem ele nem eu conseguíamos pensar quando aquela descida pela toca do coelho de Alice poderia terminar.
A esperança estava se esvaindo por entre nossos dedos e com ela, qualquer chance da obra restauradora de Deus.
O Céu Chega para o Resgate
Humanamente falando, não havia motivo para esperança — nem para o nosso casamento e, certamente, para nossos chamados vocacionais. Não há razão para que Angel e eu ainda estejamos casados. Não há razão para que Angel agora seja uma conselheira.. Não há razão para eu ser pastor. No entanto, Deus nos resgatou. Ele trouxe esperança onde não havia esperança, vida onde não havia vida, confiança onde não havia confiança.
O processo foi longo e complicado, mas foi profundamente bom. A esperança de Deus o propulsionou e Sua graça o realizou.
No entanto, mesmo quando conhecemos o poder da esperança de Deus, podemos ser tentados à desesperança. “Nem sei por que estamos aqui. Nada irá mudar”. Já ouvi tais palavras muitas vezes em sessões de aconselhamento. Reconheço tais palavras pela postura, pelos olhos vazios, pelos suspiros daqueles que aconselho.
Quem é mesmo que você não acredita que possa mudar? Seu chefe? Seu empregado? Seu amigo. Seu filho ou filha? Seu cônjuge? Você?
Você Desistiu?
De quem você desistiu? Seja honesto. Você provavelmente desistiu de alguém alguma vez. Você sabe qual é o termo teológico para perder a esperança em alguém, para desistir de alguém? Amaldiçoar. É isto mesmo. Quando perdemos a esperança em alguém, nós o estamos amaldiçoando.
A segunda metade de Romanos 1 detalha a situação desesperadora daqueles que se voltaram contra Deus. Em linguagem inquietante, Paulo diz que “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens” (Rm 1.18). Ele explica que os que estão em rebelião “são indesculpáveis” (Rm 1.20), e então por três vezes nos cinco versículos seguintes explica como Deus os amaldiçoa: “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração” (Rm 1.24), e “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames” (Rm 1.26) e, finalmente, “Deus os entregou a uma disposição mental reprovável” (Rm 1.28).
Nestas três palavras — “Deus os entregou” — paira o frio cortante da maldição.
Somente Deus pode amaldiçoar. Nunca devemos desistir de ninguém, nunca perder a esperança por ninguém. Jesus nos diz que devemos não apenas amar nosso próximo, mas também nosso inimigos. E Paulo explica que este amor tem o formato de esperança. Como Paulo enfatiza em outro lugar: “O amor […] tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1 Co 13.7).
Não perca a esperança. Não pelo fato de seu filho, seu chefe, seu empregado ou sua esposa serem capazes de mudarem por si mesmos, mas porque você acredita no Espírito de Deus, que pode transformar qualquer coração, que pode ressuscitar os mortos e que pode restaurar relacionamentos sem conserto.
O Inimigo da Esperança
Nossa cultura é uma cultura de cinismo — um cinismo desconfiado e sarcástico. E o cinismo sufoca a esperança. O cinismo é uma ferramenta útil: ele nos protege da decepção por uma transformação que nunca acontece, da decepção de promessas quebradas. Mas o reino de Deus não é edificado pelo cinismo, e edificaremos um muro entre nós e o poder do Espírito quando abandonarmos a esperança pelo cinismo. Pode haver momentos apropriados para nos afastarmos do envolvimento emocional e relacional com outra pessoa, mas jamais devemos perder a esperança.
Uma das coisas mais notáveis que minha esposa e eu temos o privilégio de testemunhar como conselheira e pastor é a transformação que invade a mais sombria das situações. Já estivemos diante de dezenas de indivíduos ou casais que diziam, verbalmente ou não verbalmente: “Não tenho esperança. As coisas não podem mudar”. Em tais momentos, costumamos dizer ao indivíduo ou ao casal que carregaremos a tocha da esperança até que eles possam pegá-la por si próprios. Pode ser que eles não creiam que mudanças possam acontecer. Mas nós cremos. Não por quem nós somos ou por quem eles sejam, mas por quem Deus é.
Temos visto isto acontecer uma vez após a outra. A mudança vem. Casais voltam a se juntar após casos amorosos, vícios pornográficos são quebrados, as correntes da ira são destruídas, ciclos de desalento são transformados.
O Caminho da Esperança
Como podemos trilhar o caminho da esperança? Romanos contém mais referências à esperança do que qualquer outro livro do Novo Testamento. Paulo começa relatando uma imagem sombria, mas não termina desse modo. É assim que ele nos encoraja a promover a esperança, quando nos deparamos com o desalento:
- Olhar para a cruz e alegrarmo-nos na esperança da salvação (Rm 5.2).
- Considerar como Deus está desenvolvendo em nós a perseverança, o caráter e a esperança, em meio a provações (Rm 5.4).
- Refletir sobre como a esperança nos liberta da vergonha (Rm 5.5).
- Refletir sobre como a esperança gera paciência (Rm 8.25).
- Deixar a esperança despertar gozo (Rm 12.12).
- Considerar como a história redentora de Deus nos dá esperança (Rm 15.4).
- Meditar sobre como o caráter de Deus é caracterizado pela esperança (Rm 15.13).
- Lembrarmo-nos de que o Espírito que vive em nós resulta em esperança (Rm 15.13).
Está desejoso por uma transformação em alguma área da sua vida? Um relacionamento? Um vício? Comece com a esperança. Deus pode fazer isso! Deixe que as sementes de esperança germinem em seu coração ao confiar no Espírito Santo, que pode fazer infinitamente mais do que podemos pedir ou imaginar (Ef 3.20).
Traduzido por Raul Flores
