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Qual é a vantagem para uma igreja local subscrever credos e confissões? De acordo com Heber Campos, “um credo é uma elaboração daquilo que cremos com base na Escritura Sagrada”. [1] De modo semelhante, uma confissão possui a mesma definição, no entanto, sua elaboração doutrinária é apresentada de forma mais extensa e sistemática.

Em linhas gerais, todos os cristãos possuem credos e confissões. A diferença é que, em alguns casos, eles se encontram expressos em documentos que podem ser examinados objetivamente à luz das Escrituras, porém, em outros casos, não. Por exemplo, quando questionamos um pastor que não possui um credo escrito — sobre o que ele pensa a respeito da doutrina de Deus, de Cristo, do homem, da salvação etc. — ele responderá de acordo com o que crê à luz de sua interpretação das Escrituras, ou seja, de acordo com seu credo, sua confissão de fé.

Desse modo, até mesmo aqueles que afirmam não ter “nenhum credo, somente a Bíblia” possuem seus próprios credos. A diferença é que, nesse caso, o credo se encontra apenas na mente de quem fala, não está expresso em um documento que pode ser examinado. Carl Trueman, em seu livro “O Imperativo Confessional”, explica corretamente que “todos os cristãos se envolvem na síntese confessional; a diferença é apenas que ou se adere a uma confissão pública, sujeita a escrutínio público, ou a uma confissão particular, pela própria natureza, imune a esse exame”. [2]

Todos possuem credos e confissões, e a Escritura é a norma que deve reger todos os credos, o crivo pelo qual todo ensino teológico deve ser analisado. Concluímos que é mais honesto para com os membros de uma igreja local, que as igrejas apresentem, expressamente, o que elas creem e ensinam de forma clara, para que eles possam ver se tais ensinos estão de acordo com as sagradas letras.

Além disso, existem outros motivos importantes pelos quais a subscrição de documentos confessionais, por parte da igreja local, é de grande valor. Alguns deles são:

1. Credos e confissões servem para promover a unidade da igreja local

Muitas pessoas chegam em nossas igrejas após passarem por diversos grupos e até mesmo seitas. Elas trazem consigo uma bagagem teológica grande. Esse fato pode conduzir a congregação à uma verdadeira salada teológica, caso não possua uma identidade confessional. Isso ocasionalmente pode levar a igreja à divisões. Entretanto, quando a igreja local possui uma confissão de fé e expressa para seus novos membros desde o início o que crê e confessa, eles saberão os limites doutrinários que devem respeitar. Isso promove unidade doutrinária na igreja local.

2. Credos e confissões servem para combater erros e heresias na igreja

Uma confissão também é importante no combate a erros e heresias. Quando o ensino bíblico é corrompido, isso deve levar a igreja a formular explicitamente o seu entendimento sobre o assunto em questão. Ao longo da história da igreja, desde os seus primórdios, o surgimento de heresias levou a igreja a desenvolver e expressar sua doutrina de forma clara e explícita. Por exemplo, a doutrina da Trindade; o entendimento sobre as duas naturezas de Cristo, entre muitas outras importantes expressões doutrinárias, que hoje representam a ortodoxia cristã, foram desenvolvidas em resposta às heresias promovidas em suas épocas. Desse modo, a formulação de credos serve para combater erros e heresias, apresentando uma afirmação do que a igreja crê sobre a interpretação da doutrina em questão. Outrossim, possuir credos e confissões pode nos ajudar a combater heresias semelhantes que ocasionalmente ressurgem, defendendo os mesmos falsos ensinos, mas com novas nomenclaturas.

3. Credos e confissões servem para promover o discipulado na igreja

Confissões de fé não tem a mesma autoridade das Escrituras, não são inspiradas como a Bíblia, mas expressam de forma sistemática as principais doutrinas apresentadas nas Escrituras. As confissões servem para mapear a doutrina bíblica para os crentes e ajudá-los a conhecer as bases da fé. Charles Spurgeon, ao republicar uma edição da Confissão de Fé Batista de Londres de 1689, falou sobre a importância desse ponto:

Este pequeno volume não é emitido como uma regra autoritativa, ou código de fé, pelo que vocês devem ser constrangidos, mas como uma ajuda para vocês em controvérsia, uma confirmação na fé, e um meio de edificação na justiça. Aqui os membros mais jovens da nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pequena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar razão da esperança que há neles. [3]

Spurgeon corretamente incentivou seus leitores a se apegarem à Palavra de Deus que estava mapeada na confissão para edificação dos crentes.

4. Credos e confissões nos unem com a história da igreja na interpretação das Escrituras

Existem mais de dois mil anos de história da igreja. Muitas heresias foram respondidas, doutrinas foram elaboradas e desenvolvidas. A Escritura foi examinada por milênios por diversos servos de Deus. É mais seguro considerarmos as doutrinas fiéis que têm permanecido de pé, ao longo do profundo exame das Escrituras através dos séculos, do que ignorar a história completamente. Ignorar a história da interpretação bíblica pode nos levar a cometer os mesmos erros do passado. Por outro lado, se um documento confessional estiver de acordo com as Sagradas Escrituras, ele jamais se tornará obsoleto.

5. Credos e confissões servem para expressar o que a igreja crê de forma que possa ser examinado à luz das Escrituras

Por fim, se o credo estiver somente na mente dos pastores, isso leva a congregação a estar mais vulnerável. Se estes morrerem, ou trocarem de igreja, ela corre um risco maior de ser levada por qualquer vento de doutrina. Além disso, se a doutrina está somente na mente do pastor, torna-se mais difícil para os membros conhecerem claramente o que se crê a respeito de diversos assuntos doutrinários. Outrossim, o pastor também pode mudar de opinião. Portanto, possuir credos e confissões escritos é mais seguro para as igrejas locais preservarem, perseverarem e expressarem a sã doutrina. É mais honesto para com os membros de uma igreja local expor clara e expressamente o que se crê, de forma que esses documentos possam ser examinados à luz das Sagradas Escrituras.



[1] CAMPOS, Heber. A relevância dos credos e confissões. Fides Reformata. 1997. p.1

[2] R. TRUEMAN, Carl. O imperativo confessional . Editora Monergismo. Edição do Kindle.

[3] Citação que se encontra na contracapa da Confissão de fé Batista de 1689, publicada pela editora “O Estandarte de Cristo”.

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