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Por que ‘Pastor-Acadêmico’ é Uma Falsa Dicotomia

Devo confessar: Estou dividido entre dois amores. Tenho uma vida dupla. Sou um pastor com duas vocações.

É certo que não sou um pastor com duas vocações tradicional. Não trabalho na fábrica local para sustentar meu ministério. Também não sou vendedor para que possa divulgar o evangelho. Sou professor universitário que ensina teologia histórica e sistemática.

Sou um teólogo que acaba sendo também pastor, e um pastor que também apascenta mentes. Seguindo a classificação de Michael Kruger, sou um “acadêmico-pastor”, alguém que trabalha em tempo integral em uma instituição acadêmica e em tempo parcial no pastorado. Meus dias são passados ​​atrás de uma bancada; meus fins de semana, atrás de um púlpito.

Vida Dupla

Tenho vivido essa vida dupla por 16 anos. Quando era aluno na faculdade e no seminário, servia em duas congregações locais que não podiam pagar por um pastor em tempo integral. Durante os últimos oito anos, venho servindo a igrejas sem pastores, e a pastores sem auxiliares. Há três anos e meio, penduro minhas vestes doutorais na sexta-feira e, no domingo, visto meu manto pastoral, como pastor titular de uma congregação outrora morrendo e, agora, prosperando, em Charleston, Carolina do Sul. Ambas são atividades profissionais em tempo integral. Mas também, são paixões em tempo integral. É por isso que as exerço.

O diálogo contínuo sobre o pastor-acadêmico ou o pastor-teólogo, contudo, me parece tanto pessoal quanto embaraçoso. A falsa dicotomia que alguns lamentam existir entre os dois mundos (a atividade intelectual e a vida clerical) me deixam atordoado. No nível mais básico, “teologia” significa algo mais do que apenas uma “palavra sobre Deus”, um estudo constante, adentrando a mente e os mistérios de nosso Criador. Daí todos os cristãos deverem ser teólogos, e não apenas os estudiosos. Sem dúvida, qualquer congregação espera e necessita de um pastor que tenha pensado seriamente nesses assuntos, ao liderá-la pelas Escrituras e para a vida.

No entanto, sei que as distinções estabelecidas pelos opositores e partidários interessados neste debate são muito mais diferenciadas. Eles reconhecem que todo cristão é chamado a amar o Senhor nosso Deus, com todo nosso ser, incluindo nossas mentes. Suas preocupações centralizam-se em se alguma pessoa pode dominar os dois campos, organizando os recursos mentais e físicos necessários para conquistar todos os moinhos de vento que se erguem em seu caminho.

Aqui também, no entanto, temo que a dicotomia seja insuficiente. Eles estão lutando contra inimigos imaginários. Permitam-me explicar (como qualquer pastor decente) por meio de uma ilustração.

Por Que a Dicotomia é Falsa

Dezoito anos atrás abandonei o rico e lucrativo mundo da publicidade para fazer faculdade e seminário. Fiz isso, pois desejava fazer a diferença no mundo, para o Senhor, na esperança de avançar o reino em Seu nome. O seminário foi meu segundo campo de treinamento (eu havia sido um Ranger do Exército americano, anteriormente). Estava treinando para a luta da minha vida eterna. Estava pronto e equipado para a batalha espiritual.

Para meu desgosto, descobri que muitos dos meus colegas soldados cristãos eram pacifistas. Eles não estavam buscando ação. Eles estavam à procura de algo mais do que aquilo que lhes havia acendido, no início, o desejo de fazer o seminário. Eles queriam mais conhecimento do Senhor. Muitos, receio, eram consumidores, e não produtores. Em última análise, parecia que haviam vindo para o seminário para si mesmos, e não pelos outros.

Mas quanto mais aprendia, mais eu queria compartilhar. Quanto mais eu recebia, mais queria dar. Assim que pude, encontrei uma válvula de escape para toda a energia espiritual reprimida. Não dava para ser diferente. Então, desde meu segundo ano no instituto bíblico até o final dos meus estudos de doutorado (por oito anos) eu recebia de meus professores e entregava às minhas congregações. Estudei para me apresentar aprovado. Então, experimentei o que aprendi. Tirei da torre de marfim e usei nas trincheiras. Minha experiência de ensino foi prática.

Desde que cheguei no meu atual campo de serviço, tenho procurado manter minha cabeça nas nuvens acadêmicas e minhas botas pastorais no chão. A missão da minha vida educacional tem sido refutar o mito de que “aqueles que podem, fazem; aqueles que não podem, ensinam”. Ao invés disso, minha meditação se tornou em “a ortodoxia leva à ortopraxia”, o pensamento correto leva à ação correta. Como aprendi no serviço militar, os Rangers lideram o caminho. Como ensino aos meus alunos, os professores lideram pelo exemplo.

Ponha o Conhecimento em Ação

Como meus alunos sabem, ideias têm consequências. Crenças têm implicações. Ao continuar estudando o mundo de Jonathan Edwards, os puritanos, e a vida dos primeiros batistas, tenho constantemente aprendido coisas novas. Descubro ideias antigas que podem ter novo valor na igreja. Assim, pesquiso e escrevo. Publico antes das ideias expirarem. Daí, trago este novo conhecimento para a igreja e o ponho em ação.

Ainda assim, a dissonância cognitiva e o transtorno bipolar teológico se escondem em cada canto. Assim como Paulo, quero fazer-me tudo para com todos, um erudito entre os pares e um pastor entre as ovelhas. Minha mente continua a ser estimulada. Oro para que meu povo faça uma dieta constante de carne com batatas, ao invés de leite e sucrilhos. Mesmo que alguns, ocasionalmente, tropecem em palavras como “latitudinarismo”, posso ter certeza de que eles nunca vão experimentar isso. Não sob a minha supervisão, de qualquer forma.

Todos os pastores podem ter duas vidas? Provavelmente não. Todos os professores podem ser pastores? É mais difícil do que parece. Mas nosso chamado inclui fazer discípulos e sermos discípulos, ao mesmo tempo? É claro que sim. Deste modo, não pode haver nenhuma dicotomia.

Traduzido por Guilherme Cordeiro.

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