Algumas partes da liderança da igreja são emocionantes, profundamente espirituais e claramente valiosas. Outras… bem, nem tanto.
Isso, claro, varia de pessoa para pessoa. Há cerca de cinco anos, quando eu estava servindo em uma igreja na Califórnia, a tarefa de elaborar o orçamento anual caiu sobre mim. Em meio às responsabilidades da pregação semanal, condução do louvor e cuidado pastoral, preparar o orçamento definitivamente parecia um fardo.
Agora, sirvo como pastor executivo em Wisconsin, e ainda sou responsável por elaborar o orçamento todo ano. Mas já não vejo isso como um fardo. Em vez disso, vejo como uma oportunidade para o discipulado. O que mudou? Comecei a entender o orçamento anual como uma ferramenta para os líderes modelarem prioridades bíblicas e uma generosidade fiel em prol do evangelho. Mas, como qualquer ferramenta, ela só é útil se for usada corretamente.
Demonstre Sabedoria e Prioridades
Você já deve ter ouvido a expressão “o dinheiro fala” — ou seja, como você gasta seu dinheiro comunica suas prioridades. O orçamento de sua casa mostra o que sua família valoriza, o que pode ser encorajador ou, às vezes, até desafiador. De forma semelhante, o orçamento de uma igreja local comunica suas prioridades. Ele transmite o que é importante para a igreja (especialmente para sua liderança) e, portanto, o que deveria ser importante para os membros individuais. Ele modela valores, metas e hábitos de gasto que outros podem seguir em suas finanças pessoais ou empresariais. Esse modelo é um discipulado básico.
Qual porcentagem é destinada ao alcance comunitário, missões internacionais, empregados, crianças e instalações? Essas são questões importantes para os líderes refletirem, porque nossas prioridades importam. Correndo o risco de soar óbvio, é necessário sabedoria. Por exemplo, a quantidade de dinheiro que investimos para manter ou melhorar nossas instalações, em comparação com o que damos para missões internacionais, diz algo para todos que estão observando.
Os líderes precisam guiar suas congregações através dessas decisões para que os membros compreendam a razão por trás das escolhas orçamentárias. Isso também é discipulado, pois capacita as pessoas a aplicarem uma sabedoria semelhante em suas próprias vidas. Elas aprenderão a aplicar princípios bíblicos e a considerar como atender diversas necessidades com recursos limitados.
Demonstre Confiança e Generosidade
Frequentemente, nosso planejamento e nossas orações sobre o orçamento não vão além de responder às perguntas “Quanto aqui?” e “Quanto ali?”. Mas podemos ir além. Os itens do orçamento, as porcentagens de doações e alocações de gastos podem discipular nosso povo em um nível mais profundo, que toca o coração. Isso se dará por meio de nossa atitude geral em relação aos fundos da igreja e, em última instância, pela fé que demonstramos com nossos recursos.
Para que uma igreja local sobreviva, ela depende, entre outras coisas, da fiel provisão financeira do Senhor por meio das doações dos crentes que chamam aquela igreja de lar. A igreja depende da generosidade dos outros. Isso é bíblico e correto. No entanto, na minha experiência, as igrejas podem ter dificuldades em mostrar esse mesmo tipo de generosidade. Em vez disso, operam com um instinto de autoproteção e uma mentalidade de escassez.
Essa mesquinharia e egoísmo podem se manifestar de diversas formas. As igrejas podem manter uma grande conta poupança intocável para uma reserva de emergência. Ou podem encher suas instalações com melhorias desnecessárias e acessórios de alto padrão. De forma ainda mais sutil, podem manter um quadro de funcionários desnecessariamente grande, que faz o que poderia ser feito por voluntários usando seus dons espirituais.
Às vezes, as igrejas parecem generosas ao dar para muitos ministérios diferentes — mas o fazem em quantias relativamente pequenas. Por exemplo, é comum apoiar vários missionários com valores ínfimos. Ou contratar, em sua maioria, funcionários de meio período e esperar um trabalho de tempo integral. Independentemente dos detalhes, essa falta de generosidade no orçamento contribui para um discipulado fraco e sufoca a missão da igreja.
Generosidade para a Missão
Quando as igrejas não são generosas com seus recursos, a congregação, inevitavelmente, se desmotiva a ser generosa.
Esse é um problema comum que contribui para que os indivíduos deem menos para o orçamento da igreja e, em vez disso, deem diretamente para missionários e outras causas. Quando os membros direcionam suas doações para fora da igreja, isso também pode resultar em situações em que os pastores não conseguem pagar suas contas, além do aumento da vocação dupla entre aqueles que estão no ministério.
Infelizmente, essa doação individualizada pode ajudar a criar uma mentalidade de escassez na elaboração do orçamento para a igreja. Os líderes podem tomar decisões movidos pelo medo em vez de movidos pela confiança, o que dá início a um ciclo vicioso e estagnante. Além disso, essa autoproteção vai para áreas além da financeira. Frequentemente, leva ao declínio das parcerias com outras igrejas e ao afastamento da comunidade, tudo em nome da sobrevivência. Ironicamente, a mentalidade de escassez adotada para manter a igreja viva pode levar à sua morte.
Por outro lado, demonstrar generosidade com nossos orçamentos transmite uma mensagem tanto para os nossos membros quanto para a comunidade. Quando somos razoavelmente generosos com os salários dos nossos funcionários, o apoio aos missionários, os eventos de alcance comunitário e os ministérios locais de misericórdia, criamos uma cultura de generosidade entre o nosso povo e entre igrejas com a mesma visão.
Lidere pela Fé
A generosidade demonstra uma fé profunda na provisão do Senhor que nosso povo pode e deve imitar. Em um momento em que a igreja em geral está perdendo dinheiro, eu entendo que pode ser assustador ser generoso com os recursos que recebemos. Mas a generosidade com sabedoria é uma boa mordomia.
Se nossa congregação não é generosa, podemos culpar os membros ou a cultura. Podemos assumir que eles precisam mudar. Isso pode ser verdade, em parte. Mas o discipulado sempre começa de cima para baixo. Como líderes, precisamos olhar para nós mesmos primeiro — para nossa fé na provisão de Deus e para nossas práticas orçamentárias. Confiamos que o Senhor é o dono do gado aos milhares sobre as montanhas (Sl 50.10 NAA)? E essa verdade conduz tanto nossa fé individual quanto a maneira como usamos as finanças da igreja?
Não desperdicemos a oportunidade criada pelo nosso orçamento anual para demonstrar generosidade e facilitar o discipulado. Pela graça e poder de Deus, vamos reverter o ciclo vicioso criado pela nossa mentalidade de escassez e fomentar uma cultura de generosidade em nossas igrejas.
Traduzido por Rebeca Falavinha.