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É uma indústria multibilionária. que alimenta a internet, domina as campanhas políticas, o rádio e o noticiário da noite. Senta-se em sofás de terapeutas e fala na linha do tempo do Facebook. Sem acepção de pessoas, rouba o sono de mendigos fracos e de reis poderosos.

O que é este fenômeno dominante, inescapável e sufocante?

O medo.

Os seres humanos sempre foram medrosos. Esta observação não é surpreendente. O que é surpreendente é que até nós — pessoas “modernas” evoluídas —somos tão temerosos.

Teoricamente, deveríamos ter menos medos do que qualquer geração antes de nós. Estamos cercados por sistemas de segurança, medicina avançada, comida orgânica e informações infinitas em um retângulo brilhante em nossos bolsos.

Ainda assim, estamos profunda e miseravelmente amedrontados. Longe de afrouxar o estrangulamento do medo, as bênçãos materiais da nossa época parecem apenas tê-lo apertado.

A Ilusão de Controle

As conquistas da vida moderna (medicinais, tecnológicas e outras) nos deram uma sensação cada vez maior de controle. Na verdade, mais que uma sensação. Realmente hoje em dia desfrutamos de maior controle sobre mais aspectos da vida do que anteriormente. Estamos tão acostumados a uma qualidade de vida conveniente, personalizada, e uma qualidade de vida “há-um-aplicativo-para-isso” que ficamos mais surpresos quando as coisas são difíceis do que quando são fáceis.

Sem percebermos, este senso crescente de controle pode começar a nos parecer natural, intuitivo e apropriado. Note bem, não como uma dádiva, mas como um direito. E começamos a pensar que, se pudermos simplesmente administrar nossos medos eles nunca nos dominarão.

Estamos errados e infelizes.

Mas é pior ainda. Viciados naquilo que podemos controlar, estendemos as fronteiras de nossos reinos a domínios para áreas que não podemos controlar. Tentamos controlar as circunstâncias, mas as provações aparecem rudemente sem serem convidadas. Tentamos controlar as pessoas, mas elas não seguem o nosso plano maravilhoso para suas vidas. Tentamos controlar nosso futuro, mas aquele que habita nos céus sempre parece rir-se (Sl 2.4).

Do Cientificismo ao Egoísmo

Nas últimas décadas, à medida que a modernidade deu origem à pós-modernidade, as autoridades reinantes de nossa cultura mudaram, com a soberania da ciência se curvando à soberania do ego. É claro que o ego soberano não é um ator novo no palco da história; desde Gênesis 3 que subimos no trono de Deus para derrubá-lo . No entanto, há algo genuinamente novo no nosso momento cultural em 2019. Há cinquenta anos, se perguntássemos a nosso vizinho incrédulo onde se encontra a verdade, ele provavelmente nos direcionaria para a ciência. Se fizermos a mesma pergunta hoje e ele nos direcionará para… nós mesmos. Tenha fé em si mesmo. Seja verdadeiro consigo mesmo. Siga o seu coração. Dos seminários doutorais aos filmes da Disney, a religião do individualismo expressivo domina o mundo ocidental. Não sei se René Descartes (” penso, logo existo”) ficaria orgulhoso, mas testes de DNA mostram que ele é o pai disto

O que tudo isto tem a ver com os nossos medos? Muito em todos os sentidos, como diria o apóstolo Paulo. Se você realmente é “o mestre do seu destino e o capitão da sua alma”, então está tudo nas suas costas. Não entre em colapso.

Não só temos mais posses do que nunca — portanto, mais coisas a perder — mas também nos promovemos a uma posição para a qual estamos vergonhosamente mal qualificados. A descrição do cargo exigia competência total e nós fomos arrogantes o suficiente para pensar que nos enquadraríamos. Portanto, passamos nossos dias brincando de Deus, tentando aprender como usar os controles enquanto pilotamos o navio.

Não é de admirar que ficamos paranoicos.

Deus Autônomo

Portanto, qual é a resposta ao nosso dilema? Como podemos nos desenredar dos medos que não nos deixam em paz? Uma resposta é a doutrina da inerência. Sim, a inerência. Simplificando, se nossa Bíblia não é totalmente verdadeira, então devemos ficar apavorados. Por quê? Porque se nossa Bíblia não é totalmente verdadeira, não temos razão para confiar que Aquele que governa nossas vidas é grandioso e bom.

Sou muito grato que meu ministro no campus universitário, Dan Flynn, amava enfatizar estas verdades gêmeas das Escrituras. “Deus pode e Deus se importa”, dizia ele. Não percebi isto na época, mas naquelas palavras simples ele estava distinguindo o cristianismo bíblico de todas as outras religiões disponíveis. O liberalismo protestante, por exemplo, oferece um Deus que é bom, mas não é grandioso. Ele se importa, mas ele não pode. Ele é um bom amigo, um coach de vida experiente, até mesmo um psicoterapeuta da melhor qualidade, mas no fim das contas ele é apenas “o cara lá de cima”. Por outro lado, outras religiões tal como o islã oferecem o oposto: um Deus que é grandioso, mas não completamente bom. Um Deus que pode, mas talvez não se importe.

Mas quando abrimos nossas Bíblias, algo sem precedentes acontece. É impressionante mesmo. Encontramos um Senhor vivo que é ao mesmo tempo grandioso e bom, soberano e gentil, que pode e que se importa.

Se Deus fosse apenas bom, eu iria para a cama com medo. Como poderia eu adorar alguém que, pobrezinho, deseja o bem e está fazendo o seu melhor? Mas também iria para a cama com medo se ele fosse apenas soberano. Que segurança podemos ter em saber que ele é poderoso se não for misericordioso? Que conforto podemos ter em uma divindade que não se importa o suficiente para mergulhar na dor humana? Que esperança podemos ter em um Deus sem cicatrizes?

Medos Rivais

A maioria das nossas ansiedades são espécies de um medo maior: o medo do homem. Temos medo de ser rejeitados, envergonhados, que alguém revele finalmente aquilo que realmente somos.

Em seu discurso na formatura do Kenyon College em 2005, o falecido romancista americano David Foster Wallace capturou esta dinâmica humana universal, e até mesmo primitiva. Wallace não era cristão e mesmo assim suas palavras têm profunda ressonância espiritual.

A razão convincente para escolher talvez algum tipo de Deus ou alguma coisa espiritual para adorar… é que praticamente qualquer outra coisa que você adorar vai te comer vivo. Se você adorar o dinheiro e as coisas, se estas coisas são onde você coloca o verdadeiro significado da vida, então você nunca sentirá que tem o suficiente. Adore o seu corpo, a sua beleza e a atração sexual, e você sempre se sentirá feio, e quando o tempo e a idade começarem a impacta-lo, você morrerá um milhão de mortes antes de elas finalmente chorem a sua perda. Adore o poder e você acabará se sentindo fraco e com medo, e precisará de cada vez mais poder sobre os outros para entorpecer o seu próprio medo. Adore o seu intelecto e você acabará se sentindo como uma fraude, sempre prestes a ser descoberto. Mas a coisa traiçoeira sobre essas formas de adoração é… que elas são inconscientes. São configurações padrão.

Os medos paralisantes de pobreza, envelhecimento, fraqueza, exposição e incontáveis outras ameaças são devidos, em última instância, à doxologia desordenada. Nossa adoração está colocada no lugar errado. Em vez de desfrutar de Deus em seu devido lugar (o sol ao redor do qual tudo na vida orbita) nós o desalojamos e o substituímos por um espelho. E sem ele como nosso centro gravitacional, tudo sai dos eixos. Tal é a insanidade da idolatria. Não é de se admirar que a vida pareça tão caótica, tão exaustiva.

De acordo com as Escrituras, tememos tanto ao homem porque tememos pouco a Deus. Temer ao Senhor é a chave definitiva para o entendimento (Provérbios 1.7) e o antídoto para a ansiedade.

Para ser claro, não o tememos porque ele é mau, mas porque ele é santo. Ele não é um ditador nem guarda de trânsito no céu; ele é o Senhor do amor. Ele é belo. Tal como observou o puritano John Flavel, “o temor piedoso não surge da percepção de Deus como perigoso, mas como glorioso”. Aquele que nos criou e nos salvou merece a nossa estima, reverência e fascínio. E a beleza contra-intuitiva da graça é que o seu perdão nos leva a um temor ainda maior (Ps. 130.4).

O Cordeiro é o meu Pastor

Em Lucas 12, Jesus exortou seus discípulos a não ficarem ansiosos, visto que o seu Pai no céu é ao mesmo tempo grandioso e bom. Em seguida, ele profere uma das mais belas declarações em todos os Evangelhos: “Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.” (Lucas 12.32).

Você entendeu? Pastor. Pai. Rei. Um versículo pequeno, três verdades imensas. O Deus que encontramos nas páginas das Escrituras — e somente este Deus — é o Pastor que nos procura, o Pai que nos adota e o Rei que nos ama.

E há 2.000 anos, no Senhor Jesus Cristo, o Rei Pastor tornou-se o Cordeiro Imolado. Por mais consolador que seja ouvir “o SENHOR é o meu pastor” (SI 23.1), há algo ainda melhor: “O Cordeiro é o meu pastor” (Ap 7.17). Aquele que o criou à Sua imagem é Aquele que o buscou, viveu por você, morreu por você, ressuscitou por você, intercede por você e retornará por você se você estiver descansando nele.

Série Ininterrupta

Sabem qual é o comando mais repetido em toda a Bíblia? “Não temas.” Eu imagino que isto é porque Deus sabia que necessitaríamos de lembretes constantes — até mesmo como pessoas sofisticadas do século 21 com smartphones nos nossos bolsos.

A história humana é a longa história da fidelidade de Deus aos medrosos. Ele nunca falhou com os seus — e ele não encerrará a série com você. Não tem sido ele fiel a você ao longo dos últimos 10.000 dias? Você pode confiar nele para o amanhã.

E quando olhar para Jesus Cristo, o autor e consumador de sua fé, não se esqueça de prestar atenção. Possivelmente começará a ouvir as correntes do medo começarem a se partir.

Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.

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