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No diálogo atual entre os cristãos sobre o racismo, notei muitas divergências teológicas, históricas, políticas e filosóficas. Todos estas áreas contêm tópicos bons e necessários a serem debatidos, mas quero propor um outro ângulo.

Devemos considerar a luta contra o racismo como parte da guerra espiritual.

Em seu prefácio de Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, C. S. Lewis escreveu:
“Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros”.

Quando estivermos dialogando sobre o racismo, não devemos nos esquecer de Satanás.

Dois Reinos

A Bíblia nos diz que Deus governa sobre toda a sua criação, mas como resultado da queda, Deus entregou este mundo a Satanás por um tempo (Jo 14.30). Tornar-se cristão, portanto, implica uma mudança de lealdade. Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14). Como crentes, não estamos mais nas mãos do Diabo; nós seguimos a Cristo. Os teólogos às vezes chamam a igreja na terra de “a igreja militante” porque estamos engajados em guerra espiritual. Os crentes são soldados na luta contra Satanás e seu mal, incluindo o racismo (Ef 6.11).

Táticas Satânicas

Para combater o diabo, a igreja necessita saber como ele opera. Consideremos seu maior “sucesso”, a crucificação do Filho de Deus. Satanás não usou um assassino solitário. Ele usou um sistema religioso e político que era corrupto. Quando Jesus foi preso, os líderes religiosos judeus estavam todos lá. Por isso, Jesus disse: “Diariamente, estando eu convosco no templo, não pusestes as mãos sobre mim. Esta, porém, é a vossa hora e o poder das trevas.” (Lc 22.53). Jesus não estava simplesmente comentando sobre o fato de que ele foi preso à noite. Ele estava dizendo que aqueles governantes injustos e o próprio Satanás estavam tendo um momento de poder. Deus permitiu que ele fosse preso, que ele fosse levado pelo poder das trevas.

Como é que o poder das trevas opera? Jesus foi levado a um tribunal religioso, onde foi falsamente acusado e considerado culpado. Ele não recebeu justiça de um tribunal romano também. Embora Pilatos tenha reconhecido que Jesus era inocente, assim mesmo ele o condenou à morte. Os sistemas de justiça religiosos e políticos malograram, e o poder de Satanás, permitido por Deus, estava por trás de tudo.

A prisão, o julgamento e a crucificação de Cristo — um grande e público erro judiciário — nos mostra como o “soberano deste mundo” manifesta seu reino por meio de instituições falidas e injustas.

A Resposta de Deus para o Mal

Mas à medida em que os líderes judeus e romanos perpetravam a injustiça em um nível humano, Deus confirmava sua perfeita justiça. Ironicamente, a maior vitória de Satanás selou sua derrota. A cruz garantiu tanto a nossa salvação quanto o destino de Satanás:

“E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.13-15).

Na cruz, podemos observar a incrível capacidade de Deus de trazer bênçãos de situações iníquas Ele não apenas tratou do nosso pecado, mas naquele momento ele derrotou a Satanás e suas forças.

O Racismo e Guerra Espiritual

Embora Satanás tenha perdido a guerra no momento em que Cristo foi crucificado, a batalha continua. Como Paulo escreveu: “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12).

A batalha contra o racismo não é meramente uma luta contra algum indivíduo, sistema de governo ou alguma lei; é uma luta que confronta a Satanás e suas forças demoníacas. Satanás ataca indivíduos (ver Lc 22.31) e sistemas. Ele corrompe as pessoas e opera por meio das leis, práticas e tradições injustas que estas pessoas criam. Ele faz isso tanto através dos governos deste mundo quanto através de instituições religiosas que valorizam a cultura e a tradição acima da verdade da Palavra de Deus.

Vemos esta propensão claramente na história norte-americana. Considere os pregadores que eram proprietários de escravos ou as leis de segregação. É essencial reconhecermos a realidade espiritual por detrás destes males — e que estas forças espirituais não são apenas relíquias do passado. Não há dúvida de que houve progresso social, político e legal em relação ao racismo, mesmo o suficiente para que sejamos tentados a pensar que já o vencemos.

Nada encantaria mais o Diabo do que os cristãos crerem que o racismo nos Estados Unidos, e particularmente na igreja, já foi solucionado.

Se crermos que a tarefa de reconciliação racial acabou, enquanto as divisões que a escravidão e a segregação criaram entre as igrejas branca e negra permanecem, deixamos de ver a mão de Satanás ainda em ação. A igreja foi projetada para ser um corpo diversificado de pessoas chamadas por Deus de cada tribo, língua e nação para serem um em Cristo. No entanto, a igreja de hoje permanece em grande parte dividida por linhas étnicas. Qualquer que seja a maneira em que busquemos transpor este abismo, não podemos nos esquecer que é uma batalha fundamentalmente espiritual.

A Armadura de Deus

Na batalha contra o racismo, não estamos indefesos. Temos a armadura de Deus: a verdade, a justiça, a fé, a salvação e a preparação do evangelho da paz (Efésios 6.10-18). Além da armadura, Deus nos equipa com duas armas: a Palavra de Deus e a oração.

Necessitamos orar contra o racismo. Necessitamos orar por justiça e paz, por retidão e unidade. Teremos a ousadia de orar para que Deus use o mal na história da nossa nação para trazer o bem? Se Deus abençoou as nações através da cruz encharcada de sangue, teremos confiança para orar para que ele também de alguma forma use o mal da escravidão e da segregação para o bem? Se Deus reconciliou os pecadores através do assassinato de um homem inocente, quanto mais poderá ele trazer reconciliação e unidade à Sua igreja de hoje?

Traduzido por Nathan Marinho

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