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Atos 14:19-28 – Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para Derbe. E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido. Atravessando a Pisídia, dirigiram-se a Panfília. E, tendo anunciado a palavra em Perge, desceram a Atália e dali navegaram para Antioquia, onde tinham sido recomendados à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido. Ali chegados, reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta da fé. E permaneceram não pouco tempo com os discípulos.

Eu espero neste blog responder uma pergunta simples: o que missionários fazem?

A pergunta é simples, mas chegar a uma resposta não é. Nos anos recentes tem havido uma grande quantidade de conversas na literatura missiológica a respeito do que exatamente nós queremos dizer, ou deveríamos dizer, a respeito de “missão”, “missionário”, ou do termo mais recente “missional”. Eu escrevi um livro com Greg Gilbert em um esforço de dar nossa pequena contribuição a essa conversa. As questões são complicadas, não menos importantes só porque não é mais óbvio o que nós queremos dizer com palavras como “missões” ou “missionários”.

Embora os cristãos usem essas palavras o tempo todo, se nós formos forçados a fornecer uma definição cuidadosa para eles, encontraríamos, penso eu, uma grande diversidade de opiniões. Para algumas pessoas, “missões” não significa nada além de evangelismo, enquanto algumas organizações ecumênicas prefeririam que as missões incluíssem todas as coisas boas que a igreja poderia fazer, exceto buscar a conversão dos perdidos. O cuidado com a criação é trabalho missionário? E ensinar pessoas a ler e a escrever? E o desenvolvimento agrícola? E os cuidados médicos? E cavar poços? E trabalhar com os órfãos? E se as pessoas fizessem essas coisas em nome de Jesus? E se essas atividades fizessem parte de um trabalho mais amplo ou servissem como um meio para um fim maior? Tentar compreender o que constitui trabalho “missionário” não é tão fácil quanto parece.

Deixe-me acrescentar um esclarecimento neste ponto. Ao fazer a pergunta “o que os missionários fazem?”, eu não estou pensando sobre as especificidades do dia-a-dia deles. Eu não vou tentar descrever todas as particularidades do que parece ser um missionário no campo e de como ele se sente. Eu não seria a pessoa mais indicada para abordar esse tópico e não é o que nós encontramos no fim de Atos 14.

Quero abordar a questão mais estendida e anteriormente. Eu quero que nós pensemos teologicamente a respeito das tarefas, dos objetivos e dos propósitos do trabalho das missões, e ao fazê-lo, olhar para as responsabilidades dos missionários. Quais os alvos de ministério que deveriam ter os homens e mulheres que agora servem no mundo como missionários? Que tipo de trabalho dos missionários as igrejas devem esperar, encorajar e orar por? O que os comitês e orçamentos de missões devem procurar ao determinarem quais organizações missionárias e missionários apoiar? Estas são questões importantes e muito práticas. E elas não podem ser resolvidas até que respondamos à primeira pergunta: o que os missionários fazem?

O Início de Uma Definição

Se estamos querendo responder a essa pergunta, devemos primeiro ter algum entendimento geral do que queremos dizer com a palavra “missionário”. Obviamente, não podemos definir completamente a palavra sem determinar o que essas pessoas fazem. Mas devemos pelo menos tentar entrar no campo de definição.

No nível mais básico, um missionário é alguém que foi enviado. Isso é o que a palavra “missão” implica. Pode não aparecer nas Bíblias em português, mas ainda é uma palavra bíblica. Eckhard Schnabel — o qual, com dois volumes de 1000 páginas sobre Missão Cristã Primitiva e uma obra de 500 páginas sobre “Paulo, o Missionário”, é um dos principais especialistas do mundo em missões no Novo Testamento — defende este ponto vigorosamente.

O argumento de que a palavra “missão” não ocorre no Novo Testamento está incorreto. O verbo latino “mittere” corresponde ao verbo grego “apostellein”, que ocorre 136 vezes no Novo Testamento (97 vezes nos Evangelhos, usado tanto para Jesus ter sido “enviado” por Deus e para os Doze terem sido “enviados” por Jesus). (“Paulo, o Missionário”, p. 27-28)

Os apóstolos, no sentido mais amplo do termo, eram os que tinham sido enviados para fora. Linguisticamente, este “enviar para fora” é também a primeira coisa que devemos notar relativa ao termo “missionário”. É, afinal, a primeira coisa que Jesus observa sobre a missão dele — que ele foi enviado para proclamar uma mensagem de boas novas aos pobres (Lucas 4:18). Estar “em missão” ou engajar-se no trabalho missionário sugere intencionalidade e movimento (“Paulo, o Missionário”, p. 22, 27). Missionários são aqueles que foram enviados de um lugar para que possam ir para outro lugar.

Cada cristão — se formos ser obedientes à Grande Comissão — deve estar envolvido com missões, mas nem todo cristão é um missionário. Enquanto seja certamente verdade que todos nós devemos estar prontos para dar a razão da esperança que temos, e todos nós devemos adornar o evangelho com nossas boas obras, e todos nós devemos fazer a nossa parte para tornar Cristo conhecido, devemos reservar o termo “missionário” para aqueles que são enviados intencionalmente de um lugar para outro. É importante lembrar que a igreja (“ekklesia”) é, por definição, a assembleia daqueles que foram chamados para fora. A nossa identidade fundamental como crentes não é como aqueles que são enviados ao mundo com uma missão, mas como aqueles que são chamados das trevas para a a maravilhosa luz de Deus (1Pedro 2:9). Como Schnabel diz sobre Atos: “[Lucas] nunca caracteriza ‘a igreja’ como uma instituição que é “enviada” para cumprir a vontade de Deus. Lucas relata que uma congregação local ‘envia’ líderes pregadores e mestres como “missionários” para outras regiões (veja Atos 13:1-4), mas a igreja propriamente dita não é retratada como sendo ‘enviada’” (“Missão Cristã Primitiva”, p. 1580). Os missionários, portanto, são as pessoas únicas chamadas por Deus e enviadas pela igreja para sair e promover as missões onde ainda não foram estabelecidas.

A Questão de Atos

Estamos chegando perto de voltar para Atos 14:19-28 e responder à pergunta “o que os missionários fazem?”. Mas há mais um passo preliminar que devemos tomar antes de chegar neste texto. Eu preciso colocar a questão de que o livro de Atos é o melhor lugar para procurar a resposta da nossa pergunta, e que o fim de Atos 14, em especial, é um lugar especialmente útil para olhar. Não seria justo responder a nossa pergunta sobre os missionários a partir do livro de Atos e de Atos 14 a menos que haja uma boa razão para pensar que este livro e este texto queiram responder esse tipo de pergunta.

Vamos começar com o livro. Atos é a história inspirada da missão da igreja. Seu objetivo é continuar de onde o Evangelho de Lucas para — com a ordem de Jesus para que “em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”, e com a promessa de que ele enviaria o Espírito Santo para vestir os discípulos com o poder do alto, para que possam ser suas testemunhas (24:47-48). A mesma narrativa ocorre em Atos 1, quando a igreja está reunida em Jerusalém à espera do Espírito Santo prometido (Atos 1:4). Este segundo volume de Lucas irá descrever o que os que foram comissionados no fim do primeiro volume foram enviados para realizar.

Não perca o significado de Atos 1:1: “Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”. Em outras palavras, o Evangelho de Lucas tratou do início do ministério de Jesus, e agora (por implicação) este livro de Atos vai lidar com tudo o que Jesus continua a fazer e a ensinar. Nunca devemos esquecer que nós não substituímos Jesus na terra, ou mesmo somos parceiros dele no sentido mais estrito. A obra ainda é dele, e Jesus ainda é o que trabalha. Nosso papel é dar testemunho da pessoa e obra de Cristo. Este é realmente o ponto de Atos: mostrar os apóstolos como testemunhas de Cristo em Jerusalém e em toda a Judéia e Samaria, até aos confins da terra (1:8). Atos 1:8 nos dá o índice de todos os 28 capítulos do livro de Atos. Os apóstolos irão anunciar Cristo através destas áreas geográficas em expansão, até que cheguem aos confins da terra. Atos é, bastante explicitamente, um livro projetado para mostrar o avanço das missões evangelísticas no mundo. Temos todas as razões, então, para pensar que este é o livro que pode nos ajudar a responder à pergunta “o que os missionários fazem?”.

E temos boas razões para pensar que esta passagem de Atos 14 é um lugar especialmente bom para obter uma resposta para essa pergunta. No início de Atos 13, a igreja de Antioquia, conforme solicitado pelo Espírito Santo, separa Paulo e Barnabé “para a obra a que os tenho chamado” (v. 2). O próximo versículo diz: “Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram” (v. 3). Esta não é a primeira vez que o evangelho vai ser pregado aos descrentes em Atos. Não é a primeira obra evangelística que Paulo e Barnabé vão fazer. Mas é a primeira vez que vemos uma igreja que envia intencionalmente obreiros cristãos com uma missão para outro local. Paulo e Barnabé viajam para Chipre, e depois para Antioquia da Pisídia, e em seguida Icônio, e em seguida para Listra, e depois para Derbe, e de lá voltam por Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, e em seguida a Perge, e aí voltam para Antioquia da Síria. Isso conclui a primeira viagem missionária de Paulo. Então, Atos 14:19-28 não é somente um bom resumo da obra missionária de Paulo, mas também é o tipo de informação que Paulo teria compartilhado com a igreja em Antioquia quando voltou (v. 27). Estes versos são como a apresentação de slides fotográficos ou a apresentação em PowerPoint que Paulo e Barnabé compartilharam com a igreja que os enviou: “É assim que vimos Deus trabalhar. Aqui está onde nós fomos e o que fizemos”. Se alguns versículos vão nos dar uma descrição sucinta do que os missionários fazem, são versículos como estes no final da viagem missionária em Atos 14.

Um Suporte de Três Pernas

Vemos nestes versos, e em particular nos versículos 21-24, o suporte de três pernas do trabalho missionário. Lucas nos dá o modelo apostólico para o serviço missionário, e o modelo tem três partes:

  • Novos convertidos – “tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos” (v. 21);
  • Novas comunidades – “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros” (v. 23)
  • Igrejas nutridas – “fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé” (v. 22).

Com certeza, os missionários cristãos podem ser mais ativos em um aspecto desta obra do que em outro. Mas toda obra missionária deve manter estas três coisas em mente. Se os apóstolos devem ser nossos modelos para o que os missionários fazem — e como enviados imediatamente incumbidos com a Grande Comissão, temos toda razão em pensar que eles são — então nós devemos esperar que nossos missionários estejam engajados nestas atividades e orar por eles visando este fim. O objetivo do trabalho de missões é ganhar novos convertidos, estabelecer esses jovens discípulos na fé, e incorporá-los a uma igreja local.

Schnabel descreve a tarefa missionária com um conjunto quase idêntico de três pontos:

  1. “Os missionários comunicam a notícia de Jesus, o Messias e Salvador, para as pessoas que não ouviram ou aceitaram esta notícia.”
  2. “Os missionários comunicam um novo meio de vida que substitui, pelo menos parcialmente, as normas sociais e os padrões comportamentais da sociedade na qual os novos crentes foram convertidos.”
  3. “Os missionários integram os novos crentes em uma nova comunidade.” (“Paulo, o Missionário”, p. 28. Cf. Missão Cristã Primitiva, p. 11)

Evangelismo, discipulado, plantação de igreja — é isso que a igreja em Antioquia enviou Paulo e Barnabé para fazer, e esses devem ser os objetivos de todo trabalho missionário. Missionários pode visar um desses componentes mais do que os outros dois, mas todos os três devem estar presentes em nossa estratégia global de missões. O trabalho de discipulado e plantação de igrejas não pode ocorrer a menos que alguns não-crentes sejam evangelizados e alguns deles convertidos. Ao mesmo tempo, não podemos deixar os novos convertidos por conta própria quando vêm a Cristo. Eles devem ser fundamentados na fé e ensinados a respeito do que significa abandonar o pecado, a carne e o diabo, e seguir Jesus. E se o nosso trabalho missionário só foca evangelismo e discipulado, sem uma visão para a centralidade da igreja local, não estamos sendo fiéis ao padrão que vemos em Atos onde a conversão sempre acarreta incorporação. O trabalho missionário é um suporte de três pernas: se estiver faltando alguma das pernas, o ministério não vai ser saudável, estável, ou forte.

É claro que, ao dizer que todos os missionários devem estar engajados com esses três componentes, não estou sugerindo que a estratégia é sempre simples e direta. Temos que ser pacientes e flexíveis em atingir esses pontos. Demora anos para aprender um novo idioma e ganhar o direito de ser ouvido pelas pessoas que você está tentando alcançar. Você pode ser um médico, ou enfermeiro, ou professor, ou pessoa de negócios, ou especialista em agricultura e comércio. E, no entanto, seu objetivo maior e mais duradouro é ganhar pessoas para Cristo, enraizá-los em sua fé, e certificar-se que a nova igreja nativa é firme e estabelecida. No mundo de hoje, atingir os povos menos alcançadas exige riscos, criatividade e paciência. Atos não nos dá apenas uma maneira de fazer a obra missionária.

Mas nos mostra o trabalho que os missionários fazem.

Por um lado, queremos evitar o perigo de tornar a nossa missão muito pequena. Alguns cristãos bem-intencionados agem como se conversão fosse a única coisa que contasse. Eles empregam todos os seus esforços em chegar ao campo o mais rápido possível, falar com tantas pessoas quanto possível, e, em seguida, sair o mais rápido possível. Missão se torna sinônimo de evangelismo pioneiro.

Por outro lado, queremos evitar o perigo de tornar a nossa missão ampla. Alguns cristãos bem-intencionados agem como se tudo contasse como missões. Eles empregam todos os esforços deles para melhorar habilidades de trabalho, reduzir o desemprego, escavar poços, criar centros médicos, estabelecer grandes escolas, e trabalhar para um melhor rendimento das culturas — os quais são importantes e podem ser uma expressão maravilhosa do amor cristão, mas não é o que vemos Paulo e Barnabé sendo enviados para fazer na missão deles em Atos.

Não tenho dúvidas que Deus capacita alguns de nós e chama alguns de nós para cuidar dos órfãos em outras terras, ou para ajudar pessoas a desenvolver melhores práticas sanitárias, ou para ajudar pessoas doentes com pouquíssimo acesso a cuidados médicos. Devemos celebrar esses chamados. Ponto final. Com o nosso apoio total. Podemos até doar financeiramente para que os cristãos possam ir e amar seus vizinhos nestas formas extravagantes. E, ao mesmo tempo, sem denegrir este bom trabalho em nada, devemos concluir a partir de Atos 14:19-28, e de todo o livro de Atos, que a missão da igreja e do trabalho dos nossos missionários enviados é algo mais específico . Aqueles que exigem uma “revolução” na nossa compreensão das missões “longe do foco missionário tradicional em ganhar pessoas para a fé em Jesus Cristo, concentrando-se, em vez disso, numa compreensão ‘holística’ das reivindicações de Jesus” o fazem sem um forte apoio textual (veja Missão Cristã Primitiva, p. 1580-1581). Vemos frequentemente nas viagens missionárias de Paulo, e de novo nas cartas dele, que a obra central para a qual ele foi chamado é a proclamação verbal de Jesus Cristo como Salvador e Senhor (Romanos 10:14-17; 15:18; 1Coríntios 15:1-2, 11; Colossenses 1:28). Paulo vê a identidade dele como um apóstolo, como um enviado, para ser principalmente isto: ele foi separado para o evangelho de Deus (Romanos 1:1). É por isso que em Atos 14:27 o resumo singular de sua obra missionária recém-completa é que Deus “tinha aberto a porta da fé aos gentios”. O objetivo de Paulo como um missionário foi a conversão de judeus e pagãos, a transformação de seus corações e mentes, e a incorporação desses novos crentes em uma igreja madura e devidamente constituída.

No livro “Salvation to the Ends of the Earth: A Biblical Theology of Mission” [Salvação Até Os Confins da Terra: Uma Teologia Bíblica da Missão], Andreas Köstenberger e Peter O’Brien descrevem o que aconteceria “se o modelo apostólico fosse seguido por missionários no cenário contemporâneo”. O trabalho desses missionários começaria com a conquista de convertidos, mas não pararia por aí.

Formar crentes em congregações cristãs maduras, fornecer conselho teológico e pastoral contra perigos que crescem dentro e fora das das igrejas, fortalecer os crentes tanto individual como coletivamente à medida que eles enfrentam sofrimento e perseguição, para que eles possam ficar firmes no Senhor; tudo isso faz parte do escopo do que é se envolver na continuação da missão do Senhor Jesus Cristo exaltado. (p. 268)

Então, o que os missionários fazem? Eles pregam o evangelho para aqueles que ainda não o ouviram. Eles discipulam novos crentes na vida e na doutrina cristã. E eles estabelecem esses discípulos em igrejas saudáveis ​​com sã doutrina e bons líderes.

Algumas Implicações

Deixe-me terminar sugerindo algumas implicações que decorrem desta resposta, e em seguida, fazer uma observação final a partir do texto.

Implicação nº1: Aqueles que servem atualmente como missionários devem considerar se as prioridades de Paulo são as prioridades deles. Eu não estou tentando destacar quaisquer missionários específicos que podem se deparar com este post. Mas, como uma ferramenta de diagnóstico geral, seria útil considerar se os objetivos deles parecem com o resumo feito por Lucas dos objetivos de Paulo no final de Atos 14.

Para alguns, isto pode ser um lembrete gentil e um encorajamento para manter o curso e continuar o bom trabalho que estão realizando. Para outros missionários, pode significar uma séria reavaliação de suas prioridades. Talvez eles desviaram de suas tarefas, talvez perderam de vista os objetivos e metas originais. Qualquer um de nós pode experimentar um enfraquecimento ou um desvio da missão. Isso acontece nas empresas. Isso acontece em igrejas. Isso acontece nas escolas. E isso acontece no campo missionário. Você tem um conjunto de objetivos em mente quando você chega, e anos mais tarde você desviou para algo completamente diferente.

Implicação nº2: Devemos direcionar o nosso orçamento de missões para apoiar os missionários que têm por seus objetivos as coisas que vemos em Atos 14:21-23. Há, certamente, um lugar para cristãos apoiarem todo tipo de boas obras, programas de desenvolvimento e iniciativas destinadas a trabalhar para a prosperidade humana. Muitos de nós escolherão apoiar esses empreendimentos pessoalmente por nossas próprias finanças. Alguns deles podem até mesmo estar no orçamento da igreja como uma espécie de ministério diaconal para com aqueles em nossa comunidade ou para aqueles que passam necessidade ao redor do mundo. Mas quando se trata de apoiar missionários no orçamento de missões, devemos esperar que eles estejam buscando, orando e trabalhando em prol das mesmas coisas que descrevem a missão de Paulo e Barnabé nos versículos 21-23. O trabalho dos apóstolos enviados deve ter uma forte semelhança com o trabalho dos nossos missionários enviados.

Somos criaturas finitas com tempo finito, recursos finitos e habilidades finitas. Portanto, a nossa estratégia de missões deve ter prioridades. Isto significa que, antes de tudo, queremos apoiar os homens e mulheres de Deus, maduros na fé, e com pensamento igual em suas convicções teológicas.

Em segundo lugar, isso deve significar que procuramos apoiar aqueles que fazem o trabalho nas três áreas da atividade missionária que vemos em Atos — evangelismo, discipulado e plantação de igrejas.

E em terceiro lugar, uma vez que os dois primeiros pontos foram firmemente estabelecidos, eu acredito que cada igreja deve ter mais duas perguntas em mente. Onde está a maior necessidade? Quais são os nossos pontos mais fortes? Estas duas perguntas não vão fazer fáceis todas as decisões difíceis, mas elas nos dão um lugar para começar a tomar decisões difíceis.

O objetivo de Paulo era alcançar tantas pessoas quanto possível com o evangelho. Ele não fez nenhuma distinção entre homens e mulheres, escravos e livres, ricos e pobres, instruídos e iletrados, maioria ou minoria. Ele queria que todos ouvissem de Cristo e estava ansioso para ir para onde Cristo não tinha sido anunciado (Romanos 15:17-23). Considerando que quase três bilhões de pessoas não têm acesso ao evangelho e que ainda há 7.000 povos não alcançados, devemos estar especialmente preocupados para apoiar e enviar missionários para onde Cristo não é conhecido.

E juntamente com essa prioridade de maior necessidade, eu acredito que é prudente considerar nossas maiores forças. Quais habilidades e interesses temos em nossa igreja? O que nós temos um histórico de fazer bem? Em que lugares que já temos laços fortes? Onde Deus abriu uma porta? Essas são o tipo de questões secundárias que nós faríamos bem em perguntar, desde que os fundamentos tenham sido estabelecidos.

Implicação nº3: Você deve considerar que se Deus está chamando você para se envolver neste trabalho, a igreja deve estar disposta a enviar-lhe. Eu sei que este post foi pesado na definição, precisão e explicação, mas talvez você sinta seu coração explodindo de alegria e propósito, e resolve num pensamento centrado no evangelho, saturado de evangelho, que quer o trabalho missionário que propõe o evangelho. Talvez você esteja sentado diante do seu computador pensando: “Isso é exatamente o que eu quero fazer com a minha vida. Quero informar a esta igreja um dia que, através do meu testemunho, Deus abriu a porta da fé para as nações”. Há uma extraordinária necessidade, e nós temos um extraordinário evangelho. Será que Deus está chamando você para ser um daqueles que conecta os dois? Se você acha que pode ser um desses missionários que nós temos falado, converse com os seus presbíteros, converse com seu comitê de missões, fale com o seu pastor, converse com um amigo maduro.

Uma Palavra Final

Eu seria negligente se eu não dirigisse sua atenção para o final do versículo 22. Lemos ali que Paulo e Barnabé fortaleceram as almas dos discípulos, os encorajaram a perseverarem na fé, e também informaram que através de muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus. Um aspecto fundamental no plano de discipulado deles era preparar o povo para sofrer. E quem melhor para prepará-los para a resistência cristã do que o apóstolo Paulo? Estamos no fim da primeira viagem missionária apenas, e já vimos Paulo ameaçado, atacado, apedrejado, arrastado para fora da cidade, e abandonado para a morte. Se o chamado para ser um cristão é uma convocação para levar a sua cruz, quanto mais o chamado para ser um missionário!

De certa forma, é mais fácil para nós hoje do que foi para Paulo e Barnabé. Viajar é mais fácil. Comunicação é mais fácil. Cuidados médicos e higiene são melhores. Mas em outros aspectos, o trabalho de um missionário é ainda mais difícil. A maioria dos missionários de hoje têm uma lacuna cultural muito grande para atravessar no ministério do que Paulo teve no ministério dele. Paulo não teve que aprender uma nova língua. Ele viajou dentro das fronteiras do Império Romano. Ele ministrou entre aqueles que compartilharam algo do mesmo sistema de ensino e mesma tradição política, ainda que a história religiosa fosse por vezes muito diferente. O envio de um americano para a Indonésia, ou um coreano para a Europa Oriental, ou um brasileiro para a África Ocidental provavelmente significará maiores desafios interculturais do que até mesmo Paulo conhecia.

No final, é claro, não é terrivelmente frutífero comparar o trabalho missionário em um século em relação a outro. Se estamos proclamando fielmente o evangelho àqueles que não o conhecem, haverá desafios. Haverá sempre a promessa de tribulação e a possibilidade de piorar ainda mais.

Isso quer dizer que devemos estar preparados para sofrer se formos, e estarmos pronto para apoiar aqueles a quem enviamos. Missionários são como os outros cristãos. Eles têm casamentos que precisam de ajuda, crianças que precisam de ajuda, e conflitos que precisam de ajuda. Eles não são super-heróis. Eles são servos — servos de Deus, servos dos outros, e servos da Palavra.

É esse último ponto que pode precisar de ênfase recorrente em nossos dias. Os missionários devem ser antes de qualquer coisa as pessoas da Palavra. Eles devem conhecê-la, crer nela, anunciá-la e ensiná-la. É por isso que eles vão. É por isso que nós enviamos. Porque como invocarão em quem não creram? E como crerão em quem nunca ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Romanos 10:14-15).

Traduzido por João Pedro Cavani.

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