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O Ministério Não é Onde Você “Se Encontra”

“Esta é uma tentativa de você encontrar a si mesmo?”

Lembro-me claramente de minha mãe me fazendo essa pergunta quando eu era adolescente, já que eu tinha me metido em encrencas pela enésima vez. Meus pais haviam observado seu menino mudar de personalidade, de aparência, e de amizades, tudo em estilo “grunge”, em meus esforços de autodescoberta.

Para ser honesto, deve ter sido estranho para os meus pais, gente do subúrbio e piedosos, repentinamente terem um adolescente que gostava de cigarros, roupas sujas, expressões de auto-aversão e canções sarcásticas sobre o quanto odiava “o homem”.

Eu me ressenti da pergunta que minha mãe me fez, porque eu sabia que ela estava na pista correta. Eu estava tentando “me encontrar”. Eu queria saber onde me encaixava no universo e como me sentir mais seguro e completo. Pensava que finalmente havia encontrado uma tribo da qual participar, onde essa busca de autodescoberta chegaria a algum tipo de conclusão.

Isso nunca aconteceu.

A angústia se dissipou e, pela Graça de Deus, os cigarros e as más rotinas de higiene também. Mas o desejo profundo pela auto-atualização, pela autorrealização e pelo valor próprio permaneceu. Sinto dizer que levei isso comigo para a liderança e plantação de igrejas.

Felizmente, Jesus não quis nem saber disso. Pela Graça, ficou no meu caminho, recusando-se a permitir que eu me encontrasse naqueles empreitadas maravilhosas. Estou muito contente por ele ter feito isso.

Abnegação

Jesus nos alertou a respeito disso. “​Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á” (Mt 10.39). O contexto dessa advertência notável é o envio dos 12 pelo Senhor na primeira viagem missionária sem ele.

Jesus foi claro: essa missão deveria ser marcada pela autonegação. Os discípulos deveriam perder a si mesmos em busca do Reino. Ao fazê-lo, eles descobririam quem realmente eram, como servos e filhos de Deus.

Havia um perigo real e claro de que os discípulos encontrassem sua identidade no ministério. Se isso estava ao alcance deles, quanto mais a nós hoje? Nossos corações distorcem as palavras de Jesus, e começamos a crer que encontrar nossas vidas, de alguma forma, resultará em algo diferente de perdê-las.

É verdade: o plantio bíblico de igrejas é profundamente centrado nos outros. O enfoque é na glória de Deus e no bem de outros. Por isso, o plantio de igrejas deveria ser uma das causas mais abnegadas que podemos buscar. Mas, de alguma forma, conseguimos fazer com que a gloriosa história de progresso e predominância da noiva de Cristo seja algo centrado em nós mesmos.

Sinais de Advertência

Então, aqui estão alguns sinais de alerta — coisas que reconheci em mim mesmo — que sinalizam que podemos estar tentando nos “encontrar” no ministério.

1. Somos tentados a tratar o nosso povo como uma plataforma.

Há um perigo real de que as pessoas que o Senhor nos confia para pastorear acabem servindo aos nossos próprios interesses; eles começam a nos parecer como compradores de livros, retweeters de pontos de sermão, e abastecedores de currículos, garantindo convites para palestras em conferências.

Não há, é claro, nada necessariamente errado com pessoas comprando seus livros e retweetando seus pontos de significativa profundidade. Mas, acima de tudo, eles são um povo ao qual Deus o chamou para ministrar e pastorear, e a maior parte desse trabalho deve ser pessoal e anônimo.

Gosto muito do que Eugene Peterson escreveu sobre a natureza do pastoreio, que é o papel principal de um plantador. Ele disse: “Ser pastor não é um trabalho muito glamouroso. É um trabalho muito do tipo “lavar as roupas” ou trocar as fraldas.”

2. Nós tememos o conceito de anonimato.

O que acaba sendo mais aterrorizante para nós do que pensar em não fazer um bom trabalho é pensar em não ser visto como fazendo um bom trabalho. Em nossa cultura hiper-conectada e obcecada por selfies, nós importamos o medo de “não ser visto como alguém incrível” no ministério.

3. Lutamos para celebrar o sucesso dos outros.

Sempre haverá histórias de sucesso das igrejas de outras pessoas. Quando ouvimos algo assim, nós nos regozijamos com o avanço do evangelho e o florescimento da noiva de Cristo? Se não, necessitamos nos perguntar se sutilmente transformamos a noiva de Cristo — as pessoas por quem ele sangrou e morreu — em “nossa” noiva.

Se nos sentimos diminuídos por causa do sucesso de outros, provavelmente transformamos a igreja em um meio para nossos fins autocentrados.

4. Não lideramos com uma pluralidade bíblica robusta.

Se tentamos edificar a igreja em torno de nossa pregação, nossa visão, nosso discernimento e nossa autoridade — e não construímos bons sistemas de liderança mútua, onde todas essas coisas podem ser carinhosamente desafiadas em uma pluralidade — então temos que nos perguntar por quê.

Talvez possamos ver qualquer desafio à nossa visão e estratégia como um desafio a quem somos. Tal é o perigo de nos permitirmos misturar quem somos com o que fazemos.

5. Nossa temperatura espiritual aumenta ou diminui de acordo com o sucesso do nosso ministério.

Números flutuantes, ovelhas rebeldes e mordazes e muitas outras variáveis ​​ministeriais acabam afetando profundamente nosso sentimento de sermos amados e chamados por Deus.

Amigos, Jesus nos ama. Ele também ama sua noiva e não nos permite usá-la como uma espécie de missão de autorrealização. Ele se oporá a nós, insistindo que somente ele receberá glória como o cabeça da igreja. Pode ser que vivenciemos isto através de um fracasso na plantação de igrejas, ou — talvez mais assustador — através da experiência oca e insatisfatória do sucesso do plantio de igrejas.

Então, vou deixar minha mãe te perguntar… “Esta é uma tentativa de você encontrar a si mesmo?”

Por favor, não deixe que sua plantação de igreja sirva a esse fim. Encontre a si mesmo na maravilha e magnificência de um Salvador que deu sua vida por você. Só então, plante igrejas livre do fardo e distração de ter que encontrar a si mesmo.

Traduzido por Victor San.

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