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O Difícil Chamado Para Promover a Paz e a Unidade na Igreja

“Sr. Heffelfinger, me desculpe, mas não há uma maneira fácil de lhe dizer isto. O senhor está com câncer. Comece o tratamento para ontem.”

Estas palavras, ditas em 2005 por um cirurgião oral sobre um tumor mortal de rápido crescimento no lado direito da minha língua, desencadearam uma campanha furiosa para salvar minha vida. Antes de ouvir o “tudo certo”, passei pelas três grandes provações: cirurgia, radiação e quimioterapia. Felizmente, Deus preservou minha vida e posso continuar pregando, embora sem 30% da minha língua.

Qualquer sobrevivente lhe dirá que a palavra “câncer” muda sua vida para sempre. Um grande tutor, o câncer. Eu nunca me inscreveria voluntariamente para passar por isso novamente, mas não trocaria suas lições por nada. Entre elas? Que diferença enorme quando um médico demonstra um comportamento correto à beira do leito. Meu oncologista utiliza uma abordagem com seus pacientes que me fez querer me tornar um pastor melhor após o tratamento.

O Dr. G não teve nenhum constrangimento em ir direto ao ponto comigo quando o necessitei. Mais de uma vez ele disse: “Nós o mandamos para o inferno e o trouxemos de volta para salvar sua vida”. Mas nunca demonstrou nada menos que o comportamento mais amável, mais compassivo e mais gentil. A maioria de nós já ouviu histórias de horror sobre médicos com modos à beira do leito vindos do currículo da escola do Marquês de Sade. Assim não foi com o Dr. G.

Imbuída de Graça

Muitos de nós no corpo de Cristo poderíamos aprender algumas coisas de alguém como o meu oncologista. Nós, pessoas do tipo “salvos-pela-graça” nos tornamos réus por nossas falhas a este respeito. Philip Yancey justamente desafiou nossas deficiências com perguntas como: “Se a Graça é tão surpreendente, por que os cristãos não a demonstram mais? Como é que os cristãos, que são chamados a dispensar o aroma da Graça, em vez disso, emitem os vapores nocivos do seu oposto?

Se quisermos receber algo acima do que a nota mínima como pacificadores, devemos confrontar este dilema de frente. Preservar a unidade não é apenas ver-nos a nós mesmos de maneira correta — salvos pelo Príncipe da Paz e enviados para sermos pacificadores — por mais importante que isto seja. A unidade também tem muito a ver com a maneira específica como vivenciamos nossos relacionamentos na igreja, cheios de amor e Graça.

Em Efésios 4.2-3, Paulo lista cinco virtudes que são absolutamente vitais se quisermos nos qualificar como excelentes na preservação da unidade cristã:

  • a humildade
  • a mansidão
  • a longanimidade
  • a tolerância
  • o esforço

Quando incorporadas e aplicadas em nossas vidas através da ajuda do Espírito, estas virtudes se combinam para moldar uma abordagem de nos relacionarmos com outros cristãos que é imbuída de Graça. É o tipo de coisa que Paulo recomenda quando escreve: “Seja a vossa equidade notória a todos os homens” (Fp 4.5 ARC). Da mesma forma ele exorta: “A vossa palavra seja sempre agradável” (Cl 4.6).

Ao examinarmos juntos estas cinco virtudes, peça a Deus para ajudá-lo a avaliar sua própria vida realisticamente à luz de suas exigências.

Uma Constelação de Virtudes

Primeiro, seja humilde.

Em primeiro lugar, concentre-se na busca da mansidão em todo o seu comportamento para com Deus e para com seus semelhantes, feitos à imagem de Deus. Medite frequentemente sobre Filipenses 2.5-11 na busca do espírito humilde que é nosso em Cristo Jesus. Tome um cuidado extraordinário na maneira como fala consigo mesmo — nenhuma voz humana faz uma diferença maior do que a de seu próprio cérebro.

Em segundo lugar, seja manso.

Se tiver que tratar de alguma ofensa com alguém, planeje cuidadosamente sua abordagem como um pacificador. Busque o melhor momento para iniciar. Nunca reaja quando estiver com as emoções alvoroçadas, frustrado ou desejando se defender. Escolha suas palavras com cuidado, sabendo o poder letal da língua (Pv 18.21). Se necessário, coloque sua reivindicação por escrito. Sempre que possível, faça-o face-a-face, ao invés de por telefone, e-mail ou mídia social. Muito se perde na comunicação por esses meios.

Em terceiro lugar, seja longânimo.

Não desista prematuramente da busca pela reconciliação. Dê aos seus irmãos e irmãs tempo para refletirem. Só porque não lhe parece haver progresso na primeira ou segunda vez, isto não significa que o Senhor não irá honrar seus esforços mais adiante.

Em quarto lugar, seja tolerante.

Quando pensamos que chegamos ao limite daquilo que podemos suportar da bagunça que outros causaram em nossas vidas, na maioria das vezes podemos suportar mais. Pela graça de Deus e com a ajuda de seu Espírito, podemos suportar mais dos santos com quem compartilhamos a comunidade em nossa igreja. Se desistirmos cedo demais, podemos acabar abandonando os meios que Deus prescreveu para nos ajudar a crescer em amor e santidade. Presbíteros de igreja, incorporem alguma versão da pergunta “O que você fará quando nós o desapontarmos, porque nós o faremos?” quando estiverem entrevistando candidatos para membros de sua igreja. Ajudem as pessoas a ver a importância absoluta da tolerância de 1 Coríntios 13.7 em sua comunidade.

Finalmente, esforce-se — ávido por manter a unidade do Espírito no vínculo da paz.

Dedique-se regularmente a ler Colossenses 3.13: “Assim como o Senhor vos perdoou” — como Ele é humilde conosco, como é gentil conosco, como é longânimo conosco, como nos suporta — “assim também perdoai vós”. Foi dito de Thomas Cranmer, um arcebispo da Igreja da Inglaterra do século XVI: “Fazer-lhe qualquer tipo de maldade gerava uma gentileza da parte dele”.

Parece que Cranmer era um pacificador cuja abordagem a pessoas difíceis estava imbuída de graça radical. E o que dizer de você e eu?

Nota dos editores: Este é um trecho adaptado de “The Peacemaking Church: 8 Biblical Keys to Resolve Conflict and Preserve Unity” [A Igreja Pacificadora: 8 Chaves Bíblicas para Resolver Conflitos e Preservar a Unidade] (Baker, 2018).

Traduzido por Thaisa Marques.

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