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Minha mãe não trabalhou em um escritório, mas ela não era uma mãe “do lar”. Depois que meus irmãos e eu começamos na escola ela raramente ficava “no lar”. Em vez disso, estava se voluntariando em nossas salas de aula, visitando vizinhos doentes em hospitais, levando refeições para pais de primeira viagem, e organizando a logística dos funerais de seus entes queridos.

Seu trabalho não-remunerado não era apenas um presente para a nossa família—o que, evidentemente, era. Ele também foi um presente para a nossa comunidade. Ela não enxergava a nossa casa como o fim de seu trabalho, mas como o meio pelo qual ela poderia servir o nosso próximo. Era sua base de operações, o lugar onde ela fazia estratégias de como amar os outros de maneira prática.

Histórias Diferentes

Minha vida é bem diferente da dela. Aos 40 anos ela era casada; eu sou solteira. Ela tinha três filhos; não tenho nenhum. Seu principal trabalho era baseado fora de sua casa; o meu é baseado fora do meu escritório. Seus horários flexíveis eram durante o dia e as noites atoladas com atividades da família; minha agenda é o oposto— minhas manhãs são definidas pelo trabalho e minhas noites são flexíveis.

Ao contrário de mim, mas assim como minha mãe antes de meus irmãos e eu começarmos na escola, muitos dos meus amigos têm crianças pequenas e trabalham em casa. O trabalho deles raramente para. Bocas precisam ser alimentadas, fraldas precisam ser trocadas, sonecas precisam ser mantidas, livros precisam ser lidos, e brinquedos precisam ser usados (e guardados). Crianças pequenas não podem ficar por conta própria; necessitam da ajuda dos pais.

As mães que trabalham fora de casa geralmente possuem horários extremamente rigorosos. Não bastasse elas estarem fora durante o horário de trabalho, ainda têm que voltar para casa correndo para pegar seus filhos na creche ou render sua babá. Suas noites também são atarefadas—seus filhos possuem horários e, uma vez que vão para a cama, meus amigos ficam em casa, já que não podem se dar ao luxo de contratar babás com frequência.

Há também, é claro, o trabalho doméstico que todas nós fazemos, não importa onde nós trabalhamos—administrando finanças, pagando contas, lavando a roupa, tirando o lixo, lavando a louça, cozinhando, varrendo e muito mais. E há ainda mais trabalho que tende a cair sobre a mulher—cuidar dos cônjuges que trabalham e dos pais que envelhecem. Estes trabalhos domésticos e cuidado com os outros, embora não remunerados e raramente reconhecidos, levam tempo e tem que ser feitos.

Mesmo que o alcance e a forma de nossas vidas individuais possam parecer diferentes, cada um de nós trabalha para o florescimento do nosso próximo. Mas por que, às vezes, isso pode ser tão difícil de ver?

Justificando Nossas Decisões

Sempre que as pessoas começam a falar sobre onde as mulheres trabalham—se em casa ou em um escritório—julgamento e comparação estão por perto. A chamada Guerras das Mamães jogam mulheres umas contra as outras—mães que ficam em casa contra mães que trabalham fora, conservadoras contra liberais, mulheres com meios e escolhas contra as mulheres que não possuem nenhum dos dois. Muitas se sentem julgadas por suas decisões e exaustas de tentar justificá-las—mesmo para si próprias.

Em A Negação da Morte, Ernest Becker argumenta que, em seu nível mais basal, o coração humano é impulsionado por um desejo de viver uma vida boa e admirável. Precisamos saber que as nossas escolhas, especialmente de como gastamos nossos dias, são certas e verdadeiras. Isso, diz ele, é a nossa “auto-imagem heroica”, e nós a protegemos contra ataques—sejam dos que partem do interior de nossos próprios corações ou dos que partem de outros ao nosso redor—através da criação de uma “armadura de caráter” para reforçar a ideia de que nossas vidas valem a pena.

Mas, Becker argumenta, essa necessidade de saber que somos heroicas e moralmente boas inflige a maior dor e sofrimento do mundo. No prefácio do livro de Becker, Samuel Keen escreve:

A raiz do mal causado pela humanidade é … a nossa necessidade de ganhar auto-estima… e alcançar uma auto-imagem heroica. O nosso desejo de alcançar o melhor é a causa do pior… A conclusão radical de Becker de que nossos motivos altruístas é que transformam o mundo em uma [funerária]. . . levanta uma questão perturbadora e revolucionária para cada indivíduo e nação: A que custo é que vamos comprar a garantia de que somos heroicos? … [Becker] nos envergonha com o conhecimento do quão facilmente vamos derramar sangue para comprar a certeza de nossa própria virtude.

As Guerras das Mamães então, não são motivadas pelo nosso desejo de ferir umas as outras, mas por nosso desejo de saber que fizemos escolhas boas e corretas. Uma mulher, por exemplo, pode acreditar que a única maneira de ser uma esposa e mãe consagrada é trabalhando em casa; para ela, mães que trabalham fora deixam de lado o seu chamado para com a sua família (Tito 2:5). Outra mulher pode trabalhar fora de casa porque ela sente que seu trabalho contribui para sua comunidade e para os propósitos redentores de Deus no mundo; para ela, mães que ficam em casa não estão sendo totalmente obedientes ao seu chamado como co-criadoras (Gn 1:28).

Nenhuma das duas vê a escolha da outra como meramente diferente, mas como moralmente errada. Até mesmo se envolver em uma discussão que legitima a outra opção é ameaçar a sua própria. Entrincheirados em nosso senso de bem moral e presunção, nós discutimos uns com os outros para proteger a nossa auto-imagem heroica.

Projeto Compartilhado

Mas as Guerras das Mamães não devem encontrar nenhuma fortaleza nos corações das mulheres cristãs, pois sabemos que a nossa virtude vem de Cristo, não de nós. Quando enfrentamos julgamento sobre nossas decisões, a graça de Deus nos permite ouvir sem temer a condenação. Sabendo que somos muito mais pecaminosas do que os outros pensam e muito mais amadas do que podemos imaginar, nossas defesas desmoronam, e nossa armadura de caráter aparece. Porque sabemos que só Cristo é o nosso herói.

Quanto mais nós abraçamos nossa identidade cristã mais fundamental, mais somos capazes de ver umas as outras como colegas, e não concorrentes. Pois, não importa onde trabalhamos—se em casa ou em um escritório—nós colaboramos em um projeto compartilhado. Embora vivamos nossos chamados individuais em nossas várias vocações, todas nós estamos trabalhando juntas para tornar Cristo conhecido e belo em nossas comunidades. Aos domingos, fazemos isso juntos como igreja reunida, mas durante a semana, o fazemos como a igreja espalhada em nossas diferentes esferas.

Isso faz com que as mulheres que trabalham em tempo integral sejam gratas pelas mulheres com as horas do dia flexíveis, uma vez que elas podem se voluntariar em lugares onde não podemos. À noite, porém, quando elas precisam estar com suas famílias, podemos tomar as rédeas da nossa missão compartilhada ao nos encontrar com as pessoas para jantar, servindo o nosso próximo que está precisando, ou liderando e hospedando grupos comunitários.

E as que são do lar podem ser gratas por aquelas de nós que trabalham em tempo integral. Somos capazes de estar em escritórios e em reuniões em que elas não podem. Podemos testemunhar a graça de Deus em lugares que podem ser hostis ao evangelho. Podemos trabalhar para a criação de produtos e programas mais redentores. Nosso trabalho não é menos de um serviço para a comunidade porque ele é pago.

Quando vemos que Jesus é a nossa identidade, temos novos olhos para apreciar as contribuições dos outros, em vez de defender nossas próprias escolhas com medo. Quando o nosso objetivo é promover o seu reino, e não o nosso, podemos nos alegrar com todos os tipos de trabalho que estão sendo feitos pois estamos em uma missão compartilhada. Mulheres que fazem escolhas diferentes são colegas, não concorrentes. É um esforço de equipe, por isso é uma sensação de alegria conjunta.

Traduzido por Marq.

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