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Nota do editor de 9Marks: Recentemente, Greg Gilbert deu uma palestra no T4G. Você pode lê-la aqui . Nessa palestra, Greg discordou de algumas declarações e ênfases de Scot McKnight e Matthew Bates. Ambos responderam ( McKnight Bates ). Este artigo aborda suas respostas.

Nos últimos um ou dois dias, tanto Scot McKnight quanto Matthew Bates responderam a uma palestra minha na conferência “Together for the Gospel” [T4G, “Juntos pelo Evangelho”], com o título “O que é, e não é, o Evangelho?”. Eu aprecio que ambos os irmãos separaram um tempo para responder à palestra, e fico feliz que esta conversa está acontecendo. Seria realmente bom se o resultado fosse não um aprofundamento dos fossos e o aumentar das muralhas, mas antes algum movimento em prol de compreensão, talvez até mesmo concordância, e por fim, uma clara, unificada e bela apresentação das gloriosas boas novas de Jesus Cristo.

Pra ser honesto, eu não aprecio argumentação online…digo, discussões online. Eu costumava apreciar, antes de me tornar um marido, pai e pastor. Contudo, uma vez que isso aconteceu, eu vejo que eu pessoalmente não parecia ter encontrado o tempo ou espaço na mente para me engajar em discussões teológicas online, regular ou eficazmente. Talvez isso explique de alguma maneira minha primeira resposta ao livro do Scot, The King Jesus Gospel [O Evangelho do Rei Jesus], o qual me fez pensar em alguma medida sobre o meu entendimento do evangelho, veio agora nove anos depois da publicação inicial do livro em 2011! Isto é constrangedor, mas ninguém nunca me acusou de ser rápido demais.

Contudo, estamos numa pandemia global, certo? Na providência de Deus, eu de repente tenho mais tempo em minhas mãos do que eu queria exatamente agora, então fico feliz de poder ser capaz de me empenhar nessa conversa. A maioria das minhas observações aqui serão direcionadas para o artigo do Scot McKnight, visto que ele elaborou um argumento mais substancial, apesar de que mencionarei o artigo do Matthew Bates aqui e ali. Existem três áreas que eu gostaria de comentar.

Em primeiro lugar, a minha visão do evangelho mudou de “soteriológico” para “um Evangelho do Rei Jesus”?

Eu tenho que admitir, eu acho que o título do artigo do Bates — “Estariam os líderes do T4G/TGC [The Gospel Coalition , A Coalizão pelo Evangelho] começando a mudar o evangelho deles?” — um tanto quanto tolo, e isso em alguns níveis. Pra começar, eu não sou um líder do T4G; eu simplesmente fui convidado a falar nesta conferência junto com vários outros homens. Pior ainda, eu não estou certo o porquê do TGC ser trazido à conversa. Eu não sou um líder do TGC, eu nunca falei na conferência deles, não estou na sua diretoria e eu nem escrevo frequentemente para eles. Eu amo ambas as organizações, mas francamente, olhar para a minha palestra de 46 minutos e sugerir ironicamente no título que isso significa alguma coisa para “os líderes” dessas duas organizações é um absurdo caça-clique. Agora, eu não acho que eu falaria nada naquela palestra que os líderes tanto do T4G quanto do TGC discordariam, e eu aprecio um ou dois deles falando isso em várias plataformas de rede social.

Isso levanta, porém, outro ponto. Eu realmente não consigo entender o porquê de McKnight e Bates acharem que estão vendo uma “mudança” nas minhas visões de um evangelho “soteriológico” em O que é o evangelho [publicado pela Editora Fiel], em 2010, para um “evangelho do rei Jesus” no T4G, em 2020. Afinal de contas, em O que é o evangelho, há subsecções do capítulo sobre “Jesus Cristo, o Salvador” que estão literalmente intitulados “O Messias-Rei. Aqui!” e “Um Rei Sofredor?”. Há também um capítulo inteiro do livro intitulado “O Reino”, o qual inclui frases como “em quarto lugar, a inclusão no reino de Deus depende inteiramente de sua própria resposta ao Rei”.

Além disso, no livro Qual a Missão da Igreja? [publicado pela Editora Fiel], que eu fui co-autor com Kevin DeYoung um ano depois, em 2011, há capítulos intitulados “toda a história”, “não compreendemos todo o evangelho?” e “reis e reinos”. Você pode ler tudo isso como quiser, mas o ponto é que é simplesmente impreciso McKnight e Bates agirem como se minhas visões sobre o evangelho e o reino tivessem mudado dramaticamente de O que é o evangelho para agora. Elas não mudaram.

Contudo, eu quero ser claro. Meu entendimento da narrativa histórica da Bíblia, as glórias do reino, o Rei e o que ele fez por nós, de fato aprofundaram dramaticamente e se enriqueceram vividamente nos últimos dez anos. Uma década sólida pregando a Bíblia expositivamente tenderá a isso, e eu sou intensamente grato ao Senhor por aprofundar meu entendimento e me ensinar novas verdade ao longo desses anos. Seria triste se eu não tivesse aprendido nada ao estudar e pregar a Bíblia por dez anos. Contudo, sugerir que está havendo uma mudança fundamental no meu entendimento do evangelho — muito menos no entendimento do T4G ou TGC — beira a deturpação.

Falando em deturpação…

Em segundo lugar, eu deturpei McKnight e Bates na minha palestra do T4G?

Eles acham que sim. Eu acho que não. Parte do problema, eu acho, vem de um problema semântico e conceitual. Permita-me explicar.

Em seu artigo, McKnight cita minha palestra do T4G, a qual eu digo que em livros que defendem um evangelho de realeza “há frequentemente um impulso em tomar a história do reinado de Jesus e divorciá-la das realidades da salvação pessoal” e então ele responde “nós não separamos redenção e evangelho. O evangelho salva. Jesus salva. Nós não divorciamos essas coisas; nós coordenamos e relacionamos as duas.”

Eu acho que vejo o problema aqui: McKnight faz objeção à minha fala que em seu livro e outras pessoas parecem “pegar a história do reinado de Jesus e separá-la das realidades da salvação pessoal, perdão, expiação e justificação” pois ele corretamente insiste que ele de fato não faz isso em um sentido absoluto. E eu concordo com ele aqui: McKnight de fato afirma todas as verdades, e ele de fato as conecta teologicamente com o reinado de Jesus, então num sentido teológico amplo não há nenhum divórcio.

Contudo, o meu ponto não é, alinhado com o assunto da palestra, pedir que McKnight afirme essas verdades ou as conecte teologicamente com o reinado em qualquer sentido que seja. O meu ponto é que, a respeito ao conteúdo do evangelho, McKnight e Bates de fato parecem divorciar o reinado de Jesus da salvação. Vez após vez, como eu disse na palestra, seu livro e de outros parecem dizer essencialmente “o evangelho é que Jesus é Rei, e não que ele angaria a salvação para o seu povo”. Sim, eles afirmam salvação, justificação, expiação pelos pecados, e todo o resto como verdadeiro, mas estes conceitos são afirmados como “efeitos” ou “resultados” do evangelho, mas enfaticamente (como Bates coloca) “não são parte do evangelho”. O fato é, você pode afirmar a verdade e importância de algo, e ainda assim insistir que não é parte do evangelho. Eu acho que é isso que McKnight e Bates estão fazendo aqui.

Deixe-me colocar alguns exemplos até mesmo de suas postagens recentes em blog, e também um exemplo do livro do McKnight.

Primeiro, Bates. Ao defender que eu o deturpei, pois ele de fato conecta teologicamente a salvação com o reinado, Bates escreve:

Salvation by Allegiance Alone (p. 60–63, 129–43, 165–91, 195–213, por exemplo), Gospel Allegiance (p. 91–94, 211–26, por exemplo) e The King Jesus Gospel (51–53, 87–89, 108–11, por exemplo) têm seções inteiras — às vezes capítulos longos — dedicados a como a cruz, o perdão, a expiação substitutiva, a transformação à imagem divina e a justificação interagem com o evangelho para a nossa salvação pessoal.”

Contudo, espere um pouco. Estas realidades “interagem com o evangelho”? Este é exatamente meu ponto. Estas verdades não “interagem” simplesmente com o evangelho. Elas são inerentes a ele; inseparáveis dele; intrínsecos, essenciais e integrais a ele — e o Microsoft Word acabou de esgotar os sinônimos aqui. Meu ponto não é que Bates e McKnight fazem nenhuma conexão teológica que seja entre estas verdades e o reinado , mas que eles divorciam reinado e salvação no que di respeito ao evangelho. Reinado é evangelho, e salvação não é.

Aqui há outra citação que eu já mencionei neste artigo, de McKnight: “nós não separamos redenção do evangelho. O evangelho salva. Jesus salva. Nós não divorciamos essas coisas; nós coordenamos e relacionamos as duas”. De novo, porém, este é o meu ponto. “as duas” — isto é, o evangelho e a redenção — são “coordenadas” e “relacionadas”, como se uma coisa não fosse parte da outra. Salvação é apresentada repetidamente como um efeito do evangelho e um resultado do evangelho, como se “fluísse” ou “emergisse” do evangelho. Entretanto, o argumento parece ser que por tudo isso, salvação não é definitivamente o evangelho, nem é o coração ou centro do evangelho, nem é (segundo Bates, novamente) “parte do evangelho”.

Aqui outra citação de McKnight, esta do seu próprio livro, enquanto ele discute a afirmação de Paulo em 2Timóteo 2.8. Ele argumenta que, de fato quase que celebra, que quando Paulo define o próprio evangelho (pelo menos é o que McKnight diz que Paulo está fazendo — falarei mais disso depois), Paulo inclui neste evangelho “nenhuma palavra sobre “expiação”, nenhuma palavra sobre salvação, nenhum indício do evangelho soteriológico”, mas antes uma proclamação de Cristo Jesus como o ressurreto e descendente de Davi. Eu não sei mais como ler esta frase senão como McKnight argumentando (e celebrando) que, para Paulo, a identidade de Jesus como rei é o evangelho, mas salvação, expiação, e outros elementos “soteriológicos” não são o evangelho. Ao invés disso, eles parecem dizer que todos estes elementos “soteriológicos” “emergem” e “fluem” do evangelho, e o evangelho nos “conduz” até eles. Contudo, eles não são próprios do evangelho.

Agora eu tenho que dizer que há vezes em que McKnight me confunde um pouco com sua fraseologia, fazendo argumentando corretamente, como se ele colocasse a redenção/salvação dentro do conteúdo do evangelho retoricamente, quando ele acabou de gastar parágrafos e capítulos argumentando que enquanto estas verdades fluem do evangelho, elas não são partes dele. Há muitos lugares como esse em seu livro. Entretanto, tomemos somente isto do seu artigo como um exemplo, sobre os primeiros versículos de 1 Coríntios 15:

“O foco aqui é sobre os eventos de Jesus: sua vida, sua morte, seu sepultamento, sua ressurreição e suas aparições. Junto com esses eventos — neles, através deles, por causa deles –, temos a história de Israel (a narrativa da Bíblia que leva a Jesus) sendo cumprida. E ao lado e permeando tudo isso — que ele ‘morreu por nossos pecados”. A redenção existe na história do evangelho que contamos sobre Jesus.”

Eu não estou certo como entender esta última frase. A redenção está “no” evangelho, isto é, parte dele, ou é “nem mesmo uma parte”, mas antes uma verdade que flui, emerge do evangelho, precisando ser coordenada, relacionada e conectada com ele? Ademais, todas estas frases anteriores — “nele, através deles, por causa deles” — de alguma maneira significam qualificar “no evangelho” de tal maneira que não signifique mais “uma parte do evangelho”? Eu seria enormemente ajudado ao escutar uma resposta direta para esta questão: a salvação está inclusa na mensagem do evangelho, ou é a mensagem do Evangelho, “Jesus é Rei, ponto final” e tudo o mais é apenas efeito e resultado?

Contudo, eu acho que eu já sei a resposta, pois me parece que tanto McKnight quanto Bates trabalharam amplamente para “desafiar o entendimento evangélico típico do entendimento do evangelho” não somente ao dizer algo como “mantenha-o em seu contexto do Antigo Testamento”, mas ao acusar-nos que nós entendemos o evangelho erroneamente — que nós incluímos verdades sobre a salvação no evangelho propriamente dito que simplesmente não pertence a ele. Então, eu não acho que os representei mal. Eu sei que eles conectam salvação/redenção teologicamente ao reinado de Jesus. O “divórcio” que eles efetuam entre os dois é a respeito do próprio evangelho: reinado é evangelho, e redenção é outra coisa.

Por que isso importa? Bem, de alguma maneira, isto é certamente uma questão de semântica. Se alguém afirma, aceita e confia na expiação substitutiva do Rei pelos pecadores e a justificação desses pecadores pela fé somente nele, ótimo. Isto é o que importa quando se trata da eternidade. Mas, por outro lado, porém, o cristianismo é um empreendimento inerentemente semântico. Nós, cristãos, criamos palavras e conceitos, e nós fazemos muita coisa com eles, e eles são importantes. Digo, somente no cristianismo a questão do céu ou o inferno reside no i extra entre homoousios e homoiousios! É assim que os cristãos fazem, contudo. E uma das palavras mais importantes em nossas vidas e fé é a palavra “evangelho”. Nossas vidas inteiras são construídas sobre o fato de que há boas novas para compartilhar com um mundo caído, então (e eu assumo que Bates e McKnight concordam comigo aqui, ou nós não estaríamos tendo esta conversa) não faz muito sentido falar sobre o conteúdo desta boas novas — o que a mensagem realmente é — “bem, isso não é nada senão um monte de semântica de qualquer maneira”. Não, não é! É uma questão do que a mensagem do evangelho cristão é, e o que não é.

Em terceiro lugar, eu tenho algumas questões exegéticas, e de outros tipos também.

Visto que McKnight tomou tempo em seu artigo para reafirmar o seu caso exegético em defesa da “proposta de um evangelho do Rei Jesus de McKnight-Bates”, talvez eu mesmo possa tomar alguns minutos para levantar algumas questões sobre algumas passagens que ele menciona como sendo centrais a esta proposta, e então colocar outras questões.

2 Timóteo 2.8

O primeiro texto que McKnight aponta em seu artigo é o de 2Timóteo 2.8, o qual ele usa a tradução NRSV: “Lembre de Jesus Cristo, ressurreto dos mortos, um descendente de Davi — isto é o meu evangelho”. Ele continua a defender o caso:

“Aqui Paulo diz abertamente que o evangelho é para lembrar que Jesus é rei (Christos significa rei ungido), que ele ressuscitou dentre os mortos e que é descendente de Davi. Isso, ele diz abertamente, é o seu evangelho. Vamos deixar Paulo pensar que ele acertou aqui?” [ênfase do autor]

McKnight assevera o mesmo ponto em seu livro, mas ainda vai além, parecendo novamente para todo o mundo que eles estão tentando colocar uma distância entre o evangelho e a salvação:

“O que importa para nós é que Paulo diz então: ‘Esse é o meu evangelho’. Nenhuma palavra sobre ‘expiação’, nenhuma palavra sobre salvação, nenhum indício do evangelho soteriológico, mas muito claramente palavras sobre Jesus e eventos em sua vida — e a História de Israel que ele trouxe à concretização. Para Paulo, de 1 Coríntios para o fim de sua vida, o evangelho era a narração dos eventos da vida de Jesus.”

Falarei um pouco mais daqui a pouco sobre a frase “o evangelho é uma narração dos eventos”. Para os nossos propósitos imediatos aqui, contudo, o problema é que a frase que McKnight traduz como a frase exaustiva — e exclusiva — “Esse (ou, no artigo, isto) é o meu evangelho” simplesmente não significa nada do tipo. A expressão κατὰ τὸ εὐαγγέλιόν μου, a qual deveria ser traduzida “de acordo com o meu evangelho”, isto é, “de acordo com ele, em concordância com ele, precisamente como eu digo nele, assim como meu evangelho declara”. Até mesmo N.T. Wright, em seu The Kingdom New Testament [O Novo Testamento do Reino], traduz esta expressão como “de acordo com o meu evangelho”, o qual é totalmente diferente da fechada conotação que traz “esse/isto é o meu evangelho”.

Ademais, a exata mesma expressão — κατὰ τὸ εὐαγγέλιόν μου — é usada em Romanos 2.16. Entretanto, eu duvido que McKnight argumentaria que Paulo quis dizer lá “este é o meu evangelho: que Deus julga os segredos dos homens por Cristo Jesus”. Com certeza nós podemos concordar que há mais no evangelho do que isso. E ainda assim esta verdade está bastante “de acordo com” o evangelho de Paulo. Isto é o que a expressão significa.

O que Paulo pretende em 2 Timóteo 2.8, então, é que as verdades da messianidade de Jesus, sua ressurreição, e sua descendência de Davi sãode acordo com o seu evangelho, elas são assim como seu evangelho declara. Em outras palavras, quando Paulo prega o evangelho, ele fala estas coisas. Entretanto, ele não quer dizer que estas coisas são tudo o que você pode dizer quando você pretende proclamar o evangelho. Então me parece que McKnight está somente tentando ir muito longe deste texto em defesa de sua posição.

1 Coríntios 15.3–5

O segundo texto que McKnight aponta neste artigo é 1 Coríntios 15.1–8. Ele dá significativamente mais tempo para esta passagem em seu livro, então eu quero interagir com ele. No livro, a maior parte da discussão é centrada nos versículos 3–5. McKnight defende o argumento de que, para Paulo em 1 Corintios 15, “o evangelho é a história dos eventos cruciais na vida de Jesus Cristo… para resumir, o evangelho é anunciar as boas novas sobre os eventos centrais da vida de Jesus”. Aqui está como ele resume este evangelho de 1Coríntios 15 — itálicos, espaço duplo e recuos todos dele:

“Nós precisamos talvez fazer uma pausa para lembrar novamente a nós mesmos o que Paulo está dizendo: ele está dizendo que o evangelho que ele evangelizou é o evangelho autêntico e confiável dos apóstolos — ele tanto recebeu esse evangelho quanto o passou a frente. Ele não é nenhum inovador quando diz respeito ao evangelho. E o que esse autêntico evangelho tradicional que o apóstolo Paulo entregou aos coríntios, de modo que eles poderiam recebê-lo? O parágrafo B nos diz justamente isso.

O autêntico evangelho apostólico, o evangelho que Paulo recebeu e passou à frente, e o evangelho que os coríntios receberam, diz respeito a estes eventos da vida de Jesus:

que Cristo morreu,
que Cristo foi sepultado,
que Cristo foi ressurreto,
que Cristo apareceu.

O evangelho é a história dos eventos cruciais da vida de Jesus Cristo.”

Contudo, espere… certamente se você pretende resumir o evangelho “de primeira importância” que Paulo expõe em 1Coríntios 15, o “autêntico e confiável evangelho dos apóstolos”, o “autêntico evangelho tradicional que Paulo o apóstolo passou aos coríntios”, certamente se você está fazendoisso, então é uma omissão significativa de deixar de fora as palavras “por nossos pecados” depois de “que Cristo morreu”! O fato é que o evangelho não é somente uma “história dos eventos cruciais da vida de Jesus Cristo”. É mais do que isso — não somente uma repetição de simples eventos, mas a proclamação destes eventos e de seu significado. Isto é o porquê de não ser suficiente dizer (e o porquê Paulo de fato não diz) “Cristo morreu”. O que ele disse foi que “Cristo morreu pelos nossos pecados”.

Agora, talvez McKnight pode só pretender, ao omitir estas palavras cruciais, focar nossos olhos nos próprios eventos, e não no seu significado, por um momento. Talvez, em última análise, ele pretende incluir no próprio evangelho o significado dos eventos também. De fato, há vários lugares em seu livro onde ele diz ser o caso. Uma página depois no livro, por exemplo, McKnight diz que “a cruz como perdoadora (e expiadora)” é um “distintivo central do evangelho”. E, então, “contudo nós contamos a História de Jesus, essa história deve lidar com os ‘pecados’, e deve lidar com estes ‘pecados’ como algo ‘pelo qual’ Jesus morreu”.

Talvez seja só eu, mas isto me deixa confuso. Se perdão e expiação são “um distintivo central do evangelho”, e se a História de Jesus (a qual é o evangelho, para McKnight) deve lidar com os pecados como algo pelo qual Jesus morreu, então eu não tenho nenhum problema com o que ele está dizendo. Entretanto, se isso é verdade, então por que McKnight vai tão longe em outros lugares para dizer que o evangelho e a salvação devem ser “coordenados” e “relacionados”, de modo que a salvação “flui” e “emerge” do evangelho? Por que ele parece tão feliz — logo depois de traduzir erroneamente Paulo em 2Timóteo 2.8, ao dizer “Esse é o meu evangelho” — ao apontar que o evangelho paulino há não há “nenhuma palavra sobre expiação, nenhuma palavra sobre salvação, nenhum indício do evangelho soteriológico”?

De novo, neste ponto, eu só quero uma resposta direta para algumas questões (e elas são genuínas, não retóricas): Scot, você está dizendo que nós precisamos ter cuidado para manter o evangelho de salvação, perdão, justificação pela fé somente, expiação, expiação penal substitutiva e todo o resto em seu contexto apropriado do Antigo Testamento? Você está só dizendo que o que nós devemos manter é um evangelho de Reinado-e -Salvação? Pois se assim for, eu estou junto com você!

Ou você está dizendo que estas verdades “soteriológicas” não são próprias do evangelho, mas somente relacionadas teologicamente ao evangelho de alguma maneira — fluindo, emergindo, coordenando, interagindo, ou qualquer coisa do gênero? Nessa questão, você concorda com Bates que “nossa justificação pela fé não é parte do evangelho… [e] quando nós começamos dizendo que isto é o evangelho, ou mesmo parte do evangelho, nós seriamente distorcemos a interpretação da Bíblia”? Você realmente argumenta que o próprio e verdadeiro evangelho de fato não contém “nenhuma palavra sobre expiação, nenhuma palavra sobre salvação, nenhum indício do evangelho soteriológico”? Pois para mim, isso parece que é de fato o que você está querendo defender, mas que, então, você está acidentalmente insinuando o oposto vez ou outra em sua fraseologia. Por favor, me ajude.

1 Timóteo 1.15

Muitas discussões como essa finalmente fazem com que ambos os partidos reapresentem os textos que defendem mais fortemente o seu caso, até que a coisa toda se torna somente algo como um jogo chato de “mas e este texto, e aquele texto?”. Eu poderia jogar esse jogo o dia inteiro com todo tipo de texto, mas por hora eu quero somente jogar uma vez: mas e 1Timóteo 1.15?

Eu acabei de começar uma nova série de sermões na Third Avenue [Baptist Church, a igreja onde Gilbert é pastor] no último domingo em 1Timóteo. Uma coisa que é muito clara é que 1Timóteo 1.15 é uma fórmula credal da mensagem do evangelho. Talvez o próprio Paulo a escreveu, ou talvez fosse uma fórmula bem conhecida que Paulo está usando aqui. De qualquer maneira, depois de começar com a impressionante introdução, “fiel é a palavra e digna de toda aceitação”, ele oferece o seu sumário do “evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado” (1Timóteo 1.11 ). Aqui está: “que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. Eu acho que é um belo sumário do evangelho, mas me parece (de novo, McKnight é ambíguo em sua fraseologia algumas vezes) que McKnight e Bates gostariam de quebrar a afirmação credal no meio, deste jeito:

  • “O Rei Jesus veio ao mundo…” Isto é o Evangelho!
  • “para salvar os pecadores”. Isto é verdade e importante, e relacionado ao evangelho, mas não é o evangelho.

Minha defesa, contudo, é de que as duas metades da mesma frase são inerentemente, intrinsecamente e inseparavelmente uma só coisa. Elas são o evangelho. Isto é o evangelho. Eu gostaria de saber se Bates e McKnight concordariam com isso.

Conclusão

Aqui é o que me soa triste em tudo isso. Assim como eu disse na minha palestra do T4G, eu acho que McKnight e Bates têm um alerta legítimo para oferecer, e e provavelmente até uma crítica legítima a ser feita, de uma tonelada de pregações evangélicas reformadas. E se a mensagem deles fosse: “Irmãos, vamos parar de tornar o evangelho em meras proposições. É claro que justificação pela fé somente em Cristo é o evangelho; é claro que a mensagem do evangelho inclui salvação e o chamado à fé; mas não negligenciem colocar estas verdades no seu próprio lugar dentro da grandiosa história da Bíblia e de seu alcance épico” — se isto fosse a mensagem deles, então eu estaria aplaudindo! O evangelicalismo reformado precisa ouvir esta mensagem, e eu tenho dito isso desde que o Senhor me deu algo como uma plataforma pública há dez anos — não somente em O que é o evangelho , em 2010 e Qual a Missão da Igreja? , em 2011, mas também em Quem é Jesus? , em 2015, e mais recentemente em The Story of Redemption Bible [A história da Bíblia da redenção], no ano passado.

Contudo, o que é triste é que este aviso legitimamente útil fica diminuído, por este impulso quase que reflexivo para também tentar tirar expiração, salvação e justificação para fora do evangelho, para dizer que essas realidades são “nem mesmo parte do evangelho”. Isso é o que pessoas que eu conheço no T4G e TGC se opõem, pelo menos em parte, no que eles leem de McKnight e Bates, e isso também é o que pelo menos em parte o porquê de continuarmos pregando sermões que insistem que a justificação pela fé somente é o evangelho: é porque homens como McKnight e Bates continuam negando isso!

Entretanto, sério, literalmente ninguém que eu conheço nestes “campos” está tentando tirar o reinando de Jesus para fora do evangelho. Na verdade, como eu fiz na minha palestra do T4G, eles estão tentando mostrar como o sofrimento representativo é inerente à noção israelita de reinado, e como — quando você segue essa história de reinado através dos comoventes séculos do Antigo Testamento e a vê, ardente, finalmente, nos ombros de Jesus de Nazaré — é de tirar o fôlego em sua beleza.

Visto isso, eu acho que eu não consigo ao certo ver contra o quê McKnight e Bates estão lutando tão veementemente. Seja que eles têm ouvido nos sermões ou não, ou lido os livros e capítulos certos ou não, eu e outros estamos e continuamos a defender e pregar, por um longo tempo, um evangelho de reinado-e-salvação. O Reinado de Jesus é o evangelho; sua Servitude Sofredora é o evangelho; sua encarnação é o Evangelho; sua salvação e perdão de pecadores é o evangelho; a justificação de pecadores pela fé somente é o evangelho; o chamado ao mundo inteiro para se arrepender, crer e ser salvo por Jesus é o evangelho.

Porque raios então alguém gostaria de se levantar contra isso e dizer: “Não. Jesus é Rei é o evangelho. Nada mais. ‘Nenhuma palavra sobre expiação, nenhuma palavra sobre salvação’. Ponto final bem aqui”? Quão triste e raso…

E por que raso? Porque o fato é que a proclamação “Jesus é Rei” não é boas novas de modo nenhum. Para ser boas novas, nós temos que saber o que esse rei pretende fazer — seja pretendendo esmagar ou salvar, condenar ou perdoar. As “boas novas”, o evangelho, é que o Rei Que Veio é um Rei Que Perdoa. De fato, ele é um Rei que representa seu povo no sofrimento, que dá a si mesmo para morrer para que nós possamos viver. Isso é boas novas, e não a mera afirmação de que “Jesus é Rei”.

O ponto todo da minha palestra no T4G era que o “sofrimento representativo” é inerente à ideia de reinado israelita, e de fato inseparável dele. Então toda vez que você ler a palavra “Rei/Cristo/Messias” no Novo Testamento, você deveria também escutar nesta palavra a verdade de que toda a ideia de reinado era que o rei deveria sofrer e morrer em lugar do seu povo para que eles possam ser salvos da sua rebelião contra Deus.

Por fim, o evangelho de Jesus Cristo é maior que o mero anúncio da entronização de Jesus. É mais glorioso e maravilhoso do que “Jesus é Rei”. Os Césares de Roma pensavam que “César é Rei” era boas novas. Todavia, isso não era boas novas, pois o César não poderia salvar ninguém no final, nem mesmo de problemas desse mundo. Contudo, o Rei Jesus? Ele é mais do que César, melhor do que César, maior do que César — precisamente porque ele salva, e não somente dos problemas do mundo, mas do pecado, morte e inferno.

“O Rei Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. Agora, isso é boas novas. Então porque raios alguém gostaria de responder essa afirmação com um “É… só metade disso que é, afinal”?

Tradução: Marcel Cintra
Fonte: 9marks.org

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