A idéia de me dedicar a discípulos mais jovens ficou arraigada em mim desde o começo da minha vida cristã. Mas nas últimas duas décadas, tenho observado mais especificamente a necessidade de focar no discipulado de homens.
Cada seguidor de Cristo necessita ser ensinado a obedecer a tudo aquilo que Cristo ordenou. No entanto, Deus coloca um ônus especial de liderança sobre os homens, e não há melhor maneira de os homens ficarem preparados para assumir este ônus do que no contexto de um relacionamento de mentoria comprometida com um homem de Deus, em uma igreja local.
NOSSO CONTEXTO: UMA CONFUSÃO GERAL DE GÊNERO
Há um ataque satânico sistemático ao próprio conceito de gênero e, com ele, aos papéis baseados em gênero no lar e em toda a sociedade. Os líderes da igreja necessitam estar bem conscientes da natureza e da seriedade deste ataque e se disporem a enfrentar o desafio com um bom ministério bíblico tanto para homens quanto para mulheres.
Por causa disso, os meninos não entram no mundo sabendo ser homens piedosos; necessitam ser treinados para isto. Obviamente, o papel principal do treinamento para esta formação deve ser do pai do menino. Ele deve discipular seu filho à cada dia na Palavra do Senhor e nos padrões de uma vida piedosa.
Mas, embora os pais piedosos sejam de longe os melhores discipuladores de homens jovens a desenvolverem uma masculinidade semelhante à de Cristo, os pais espirituais também podem desempenhar um papel vital. É aqui que um mentor, um pastor ou um discipulador podem intervir e levar o jovem para além de onde seu pai o conduziu. Numa época de absentismo desenfreado dos pais biológicos, a próxima geração de líderes espirituais anseia que homens piedosos estejam a postos e sirvam como pais espirituais adotivos.
ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA DISCIPULAR HOMENS JOVENS
1) Molde-os aos “dois padrões”.
O Novo Testamento revela dois “padrões” de discipulado aos quais todo discípulo deve se conformar: o padrão de ensino sólido (2Tm 1.13) e o padrão de vida piedosa (Fp 3.16). Deve haver um lado doutrinário/bíblico/estudioso, bem como um lado “vida na vida”, na modelagem de papéis.
De acordo com o primeiro padrão, devemos saturar o coração dos homens nas Escrituras e na sólida teologia. Use os clássicos da história da igreja: as Institutas de Calvino, os escritos dos puritanos, os sermões de Martyn Lloyd-Jones e assim por diante.
O segundo “padrão” (exemplo de vida piedosa) merece um comentário extra quando se trata de masculinidade. Os rapazes podem muito bem nunca ter visto um marido piedoso amar sua esposa como Cristo ama a igreja (Ef 5.25), ou um pai piedoso educar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Ef 6.4). Seria excelente ter um discípulo observando regularmente a vida doméstica de seu mentor, porque algumas coisas não podem ser aprendidas senão pelo exemplo. É por isso que Paulo escreveu: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1).
Quando se trata de liderança da igreja, existem muitas oportunidades para isso:
- permita que eles observem você se reunir com uma família enlutada para preparar o funeral;
- leve-os com você para conferências nas quais você possa ser o palestrante;
- tenha-os com você ao preparar o sermão;
- passe tempo com eles de joelhos orando pelos membros da igreja;
- leve-os com você aos hospitais;
- lidere-os em atividades de alcance comunitário.
Para moldar o coração e a vida dos futuros líderes, estes dois padrões necessitam ser usados.
2) Transmita uma visão da liderança piedosa.
Deixe bem clara esta visão de liderança: Deus está levantando homens para liderarem no lar e na igreja. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, Deus estabelece que homens liderem seu povo em cada geraçāo, e isto necessita ser um objetivo claro do seu relacionamento de discipulado.
No contexto do discipulado, seu objetivo é ajudar um irmão mais novo a entender que a igreja necessita de líderes sábios que ensinem a sã doutrina e que pastoreiem o rebanho de Cristo em humildade e força (At 20.17-38; 1Pe 5.1-4 ) Deus pode estar levantando a ele e o preparando para fazer parte de um grupo de presbíteros para liderar a igreja. E esta liderança necessita estar de acordo com as linhas bíblicas, se quisermos realizar a Grande Comissão que Cristo nos confiou.
Por fim, um jovem deve entender que você espera que ele faça esse mesmo tipo de discipulado com homens jovens quando ele estiver “bem-instruído” (Lc 6.40).
3) Alerte-o para os dois tipos de liderança masculina fracassada: a tirania e a abdicação.
Alguns maridos e líderes de igreja adotam seu papel de líderes com uma ambição ímpia. Tomam decisões tiranicamente que arruinam a vida de suas famílias e igrejas. Tais homens são abusivos, e as pessoas que lideram não florescem sob sua liderança.
Para corrigir esta falha, é necessário ensinar aos homens jovens os princípios de liderança servil que Jesus apresenta em Mateus 20.25-28. Os líderes servem às pessoas que lideram, e é necessário demonstrar isso.
Por outro lado, o erro muito mais comum entre homens é a abdicação. Adão foi colocado no Jardim do Éden “para servi-lo e protegê-lo” (tradução literal de Gênesis 2.15). “Proteger” implica um mal invasor, que se manifestou no traiçoeiro ataque de Satanás à mente da esposa de Adão no próximo capítulo. A conversa foi toda com Eva. Adão, que estava com ela (Gn 3.6), ficou ali e não fez nada. Muitos mais maridos e pais, e líderes potenciais de igreja, abdicam de suas responsabilidades do que os que usam sua posição como tiranos.
Portanto, necessitamos ensinar homens jovens a assumirem o papel de liderança com coragem e humildade. Novamente, sua própria disposiçāo jovial para liderar de acordo com o padrão de Cristo é vital. Homens jovens precisam vê-lo liderando tanto em casa como na igreja, nem como tirano nem como covarde. Sua hospitalidade desempenha um papel crítico nisso: convide-os com frequência para observarem seus padrões de liderança gentil para com seus filhos e sua maneira amorosa de incentivar sua esposa.
4) Gere uma ambição piedosa com base em 1 Timóteo 3.1.
Paulo escreveu: “Se alguém deseja o episcopado, excelente obra almeja” Esta é uma ambição piedosa para o futuro, e cada homem jovem na igreja deve tê-la. Mesmo que Deus não abençoe o homem com o dom de ensino necessário ao ofício, o restante dos atributos listados em 1 Timóteo 3.2-4 são comuns a todos os homens cristãos: irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, respeitável, hospitaleiro, não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento, governando bem sua casa (filhos).
Estas virtudes fornecem um roteiro para discipular homens jovens. E mesmo que não se mostrem mestres talentosos, podem assim mesmo receber o mesmo treinamento que outros futuros presbíteros, porque essa instrução doutrinária lhes será muito útil como futuros maridos e pais.
Portanto, um mentor maduro deve sabiamente implantar no coração do homem jovem uma brasa ardente de ambição divina para ser um futuro presbítero e, entāo ter como um objetivo central do discipulado avivá-la em chamas.
5) Dê-lhes oportunidades de servir e depois avalie seu serviço.
O discipulador deve buscar constantemente tarefas específicas de ministério que possa confiar ao discípulo, apropriadas ao seu nível de desenvolvimento. Isso pode envolver oportunidades para ensinar, evangelizar, liderar reuniões de oração, realizar tarefas servis de apoio, planejar eventos ou trabalhar no serviço de vídeo.
Talvez você possa confiar a um homem um estudo bíblico de quarta-feira à noite e depois fazer anotações sobre como ele se saiu. Em geral, o objetivo é dar um feedback gentil e amoroso.
Ou permita que um homem organize um evento de alcance comunitário durante o verão. Ele pode pesquisar o que outras igrejas têm feito para se conectarem com pessoas perdidas. Deixe que ele desenvolva uma idéia e entāo se organize e a ponha em prática. Em seguida, avalie o evento, enfatizando os aspectos positivos, mas dando orientações claras sobre maneiras de melhorar.
Ao avaliar o desempenho, é vital que, via de regra, o mentor seja super encorajador. O discípulo realmente anseia pela aprovação de seu “pai espiritual”. E palavras consistentes de amor e admiração (como Paulo faz com Timóteo) são essenciais para o relacionamento. Dito isto, também são necessárias críticas boas, específicas e construtivas.
6) Desafie-os a memorizar as Escrituras.
Nenhuma disciplina foi mais útil no processo de minha maturidade espiritual do que a memorização de partes extensas das Escrituras. Esse compromisso é bastante factível e renderá juros enormes pelo investimento realizado.
A memorização das escrituras ajudará o jovem em sua própria caminhada pessoal com Cristo, em seu evangelismo, em seu casamento e como pai (atual ou futuro) e em seu ministério da Palavra. Este tem sido um pilar central no meu discipulado de homens jovens há décadas.
7) Identifique uma “coluna” de futuros líderes em sua igreja local.
Observe alguns homens que podem ter as características necessárias para serem futuros discípulos: fiéis, disponíveis, dispostos a aprender. Uma igreja local saudável necessita ter um padrão contínuo de discipulado de homens jovens para se tornarem maridos, pais e líderes da igreja.
8) Ore diariamente pelo desenvolvimento deles.
Siga o exemplo do apóstolo Paulo ao orar pelo desenvolvimento espiritual de seus discípulos. Ore Efésios 1.15-19 e 3.14-21 por eles. Ore Filipenses 1.9-11 e Colossenses 1.9-14 também. Deixe seus discípulos ouvirem você orando estas coisas por eles e incentive-os a orarem por você também.
UM DOCE MINISTÉRIO RECOMPENSADOR
Discipular ávidos homens jovens para a liderança futura no lar e na igreja é um dos aspectos mais docemente gratificantes de ministério que já vivenciei. Que Deus abençoe ricamente seus esforços ao se dedicar à próxima geração de líderes da gloriosa igreja de Jesus Cristo!
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Traduzido por: Matheus Thiago C. Mendonça
Fonte: 9marks.org
