×
Procurar

O pregador expositivo tem como objetivo pregar tanto os livros individuais da Escritura, como o cânon em geral. Ele poderá voltar-se para o livro de Provérbios no verão porque é prático, preenche um espaço único no cânon, e ele adéqua-se aos meses em que as pessoas vêm e vão, tornando mensagens isoladas benéficas.

Mas Provérbios apresenta desafios únicos por três razões primárias. Primeiro, visto que os provérbios consecutivos parecem ter pouca relação um com outro, como se pode pregar uma mensagem expositiva de um só versículo?

Segundo, alguns provérbios parecem ser promessas que nem sempre são verdadeiras. As limitações de espaço me obrigam a remeter o leitor a comentários como The Book of Proverbs (tradução livre: O Livro de Provérbios) por Bruce Waltke, que responde bem a esta questão.

Terceiro, nos perguntamos como os provérbios levam organicamente a Cristo. Os pastores sabem que seria fácil pregar moralisticamente, com o evangelho sendo adicionado no final: “Ninguém é sábio desta maneira, ninguém pode fazer isto, então volte-se para Jesus.”

Quero concentrar-me no primeiro e terceiro desafios.

Alguma Unidade Estrutural

O primeiro problema não é tão grave quanto parece, já que Provérbios tem mais unidade estrutural do que aparenta inicialmente. Os primeiros capítulos tratam exaustivamente de vários temas: o temor do Senhor (1.1–19), o chamado à sabedoria (1–2; 8–9), a confiança no Senhor (3:1–12), pais que ensinam e filhos que escutam (4), a abstinência sexual e prazer (5; 6.20–7.27). Podemos conectar muitos provérbios dos capítulos 10 a 30 a estes temas principais:

  • Descrições do sábio e do tolo (12.15–16; 17.10, 12, 16) se encaixam em Provérbios 8–9.
  • Instruções para os pais e filhos (10.1; 22.6; 22.15; 29.15; 13.1; 23.22) sāo do molde de Provérbios 4.
  • Se Provérbios 5 abençoa o aspecto romântico do casamento, Provérbios 31 menciona o elemento prático. Provérbios individuais sobre as bênçãos do casamento (12.4; 18.22; 19.14; contra 21. 9) completam a descrição.
  • Há também conjuntos de Provérbios que desenvolvem um tema. Temos mensagens para tolos (26.1–12), especialmente preguiçosos (6.6–11; 26.13–16); conselhos para quando jantar com governantes (23.1–3); e advertências sobre a embriaguez (23.29–35).
  • Um grupo de provérbios sobre os planos de Deus e sobre nossos planos em 16.1–4 unifica provérbios dispersos (16.9; 12.15; 11.14; 15.22; 24.10).
  • Da mesma forma, provérbios individuais sobre a obtenção e a preservação da riqueza (10.22–25; 11.24–25; 15.27) desenvolvem o primeiro e último grupo sobre o uso sábio da riqueza (10.1–5; 22.22–23.11).

Quatro Temas Centrados em Cristo

Estes grupos levam organicamente a Jesus se dedicarmos tempo para desvendar e aclarar todos os papéis de Jesus. Jesus é o homem mais sábio, o Filho em perfeita sintonia com o Pai, o verdadeiro marido, o trabalhador perfeito, o amigo leal, o homem que seguiu os planos de Deus, que sabia como lidar com a riqueza. Considere estes quatro temas.

1. Jesus, o bom trabalhador.

Dezenas de Provérbios exaltam a diligência e zombam da preguiça. É como se os autores dos Evangelhos tivessem o sábio e fiel trabalhador de Provérbios em mente quando descreveram a Jesus. Por exemplo, um tolo não sabe quando é hora de trabalhar (24.30–34), mas Jesus nunca foi “remisso na sua obra” (18.9). Sabia que devia trabalhar enquanto era dia, enquanto tinha a oportunidade (João 9.1–5). O preguiçoso gosta de dormir e comer; estas são as suas principais atividades (26.14–15; 20.13).

Mas Jesus trabalhou duro (João 5.17) ao passar a noite em oração (Lucas 6.12), ao ensinar seus discípulos (João 13.30–17:26), e ao sofrer por seu povo (Mateus 26.36–75). Acima de tudo, Jesus realiza as promessas de que o homem sábio e trabalhador verá os resultados de seu trabalho (10.4–5; 12.9, 11, 14, 27; 16.26). Através de seu trabalho na cruz, Jesus tornou-se o trabalhador que concluiu sua obra (João 4.34). Quando Jesus terminou a obra que o Pai lhe deu, ele viu o resultado de seu trabalho e ficou satisfeito (Is. 53.11; João 5.36; 19.30).

2. Jesus, o filho fiel.

Jesus é o filho ideal de Provérbios 4 que acata a instrução de seu Pai. Ele faz o que seu Pai diz (4.1), mantém o seu coração puro (4.23; cf. João 8.46), fala como seu Pai direciona (João 12.49), e segue o caminho do seu Pai (4.26–27; João 12.23–28; Lucas 9.22, 46; Atos 2.23).

Jesus realiza a obra que seu Pai dá, especialmente ao dar sua vida pelo seu povo (10.1, 5; João 5.19, 36; 10.17–18). Para João, Jesus é um Filho verdadeiramente nobre. Ele é o Filho que concede a outros o direito de se tornarem filhos de Deus (João 1.12–13). Na verdade, ele traz muitos filhos à glória com ele, ao provar a morte e derrotar àquele que detinha o poder da morte (Hb. 2.8b–15).

3. Jesus, o verdadeiro amigo.

Os principais dizeres em Provérbios sobre a amizade destacam a lealdade e a fidelidade, especialmente na hora da necessidade. Temos sete grandes provérbios sobre a amizade (17.17; 18.24; 19.4, 6. 27.6-10), mas eles parecem isolados, sem relação aos grandes temas de Provérbios (embora haja uma seção sobre “dificuldades em relacionamentos” em 18.23–19.7). Mas de acordo com a Escritura, a amizade se origina no caráter de Deus.

O Senhor era um amigo de Abraão e de Moisés, o que ele provou ajudando-os em momentos difíceis e ao revelar-se a eles (Gn. 18–19; Tiago 2.23; Ex. 33.7–11; 34.6). Em João 15.13–15, Jesus se revela como o arquétipo da amizade ao dar a sua vida por seus amigos.

4. Jesus, a sabedoria de Deus encarnada.

Como uma criança, Jesus era cheio de sabedoria (Lucas 2.40, 52). Mais tarde, multidões se maravilharam com sua sabedoria (Mt. 13.54). Salomão foi o rei mais sábio de Israel, mas Jesus afirmou sobre si: “eis aqui quem é maior do que Salomão.” (Mt. 12.42; cf. 1 Reis 4.32; Mt. 11.19). Paulo concorda: Jesus é o poder e a sabedoria de Deus (1 Co. 1.24,30). Nele toda a sabedoria está escondida (Cl. 2.3).

Há uma abundância de temas adicionais. Jesus sempre fala a verdade (25.11, 15; contra 26.7). Ele odeia o suborno e o lucro desonesto (15.27). Ele confiou em Deus de todo o coração, apesar de seu caminho parecer tortuoso, até que a ressurreição provou que esta era a vereda acertada (3.1–10).

Três Caminhos para Cristo

Portanto, um plano de pregação poderá parecer assim: Um pastor percebe um grupo de provérbios sobre um tema que ilumina um aspecto do viver no temor do Senhor (1.7). Ele estuda atentamente um ou mais provérbios deste núcleo, em seguida, preenche a descrição elaborando sobre os outros, espalhados no livro. Se a história bíblica ilustrar o ensino, ainda melhor (ver Dennis Johnson, Him We Proclaim, 303–313).

Então, o pregador apresentará a Cristo a partir de Provérbios de três maneiras:

  1. Mostre como Jesus encarna e completa todos os elementos da sabedoria.
  2. Mostre como os papéis de Jesus como o trabalhador sábio, amigo, filho, esposo, e homem justo conduzem à sua obra redentora. Não queremos apenas grampear Jesus no fim de um sermão moralista: “Você precisa fazer isso. Na realidade, isto não é possível, portanto volte-se para Jesus”.

    Pelo fato de Provérbios sempre descrever o homem sábio e o tolo, nunca é mero moralismo. Por que descreve caráter, descreve a Cristo.

  3. Mostre como que, uma vez que Provérbios descreve a Jesus, isto inclui aqueles que pertencem a ele—homens e mulheres que permanecem na videira verdadeira e dão muito fruto através da união com ele. Provérbios descreve a Jesus, que é o nosso modelo, nosso Redentor, nossa força. Portanto uma vida sábia está ao nosso alcance, pois assim como Jesus nos redimiu pela graça, ele também nos habilita pela graça.

Traduzido por Kellvyn Mendes.

CARREGAR MAIS
Loading