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Bolsa de Ferramentas do Pregador

Em uma cultura acostumada a um fluxo interminável de entretenimento, um sermão sobre uma genealogia certamente deve estar no mesmo nível que fazer um tratamento de canal ou uma ida ao DETRAN no último dia do mês. Até mesmo muitos santos maduros ignoram essas passagens em suas leituras bíblicas ou ficam desencorajados ao tentar lê-las, então é improvável que um pastor crie entusiasmo ao anunciar que o sermão da próxima semana será sobre uma lista de nomes.

Pastores, ao pregarmos as Escrituras, devemos reafirmar nossa convicção na inspiração de toda ela. Já que até mesmo uma lista de nomes foi inspirada por Deus, podemos ter certeza de que estes textos nos mostram o caráter de Deus, revelam a obra de Cristo e nos edificam para segui-lo.

Três Perguntas

A primeira responsabilidade de cada pregador é descobrir a intenção do autor. Sabemos que os autores bíblicos, sob a inspiração do Espírito Santo, escreveram usando seus próprios vocabulários, históricos e experiências distintas para expor seus pontos. A maneira mais segura de entender o ponto principal do autor é abordar o texto com perguntas. Fazendo boas perguntas, examinamos detalhes, olhamos por baixo da superfície e descobrimos pistas que revelam a mensagem do autor.

Há três perguntas específicas que podemos fazer para chegar ao âmago das genealogias – de modo que preguemos o evangelho e edifiquemos o povo de Deus através delas.

1. Como se encaixa na narrativa do autor?

A primeira prioridade é ver como o autor usa a genealogia. Ele pode usá-la como uma maneira de contrastar duas linhagens familiares, tal como nas famílias de Caim e Sete em Gênesis 4 e 5. A linhagem de Caim começa e termina com um assassino. Por fim sua família acaba com o dilúvio. Mas a linha de Sete leva a Noé, um recipiente justo da Graça que preserva a humanidade através da obediência.

Nós também devemos ver com que tipo de genealogia estamos lidando, já que diferentes tipos têm objetivos diferentes. Em Gênesis 10, o autor traça os descendentes de Noé, nomeando cada filho, os filhos desses filhos, os filhos de seus filhos e assim por diante. Esta “Tabela das Nações” vai até Terá, o pai de Abrão. Compreender a diferença nas genealogias nos dá um vislumbre da intenção do autor.

2. Como isso cumpre as promessas de Deus?

Quando já estamos lendo a Bíblia há anos, podemos nos esquecer quão ousadas são muitas das suas promessas. Deus pega um velho sem filhos com uma esposa velha estéril e diz que ele será pai de uma grande nação. Com a vantagem de conhecer o fim da história, ficamos abismados com a falta de fé de Abraão em tentar obter um descendente através de Hagar e em mentir sobre Sara ser sua irmã. No entanto, se nos colocarmos no lugar de Abraão, perceberemos quão louca é essa promessa. Portanto, devemos ler as genealogias posteriores em Gênesis e Números com admiração.

A lista de pessoas que vieram com Jacó ao Egito (Gn 46.8-27) mostra que, em apenas algumas gerações, o Senhor expandiu a família de Abraão de uma maneira que parecia impossível em Gênesis 18. A numeração do povo de Deus durante as peregrinações no deserto mostra que, embora não sejam tão inumeráveis ​​quanto as estrelas no céu, Deus fez de Abraão uma grande nação e ainda não terminou de cumprir essa promessa a ele e a seus descendentes (Nm 1.4).

A genealogia de Mateus 1 conecta o nascimento de Cristo a Abraão e a Davi. Não é por acaso que a genealogia vai de Abraão a Davi e ao retorno do exílio. Mateus começa com Abraão, a quem Deus prometeu que abençoaria todos os povos da terra, e então termina com o mandamento de Cristo de fazer discípulos de todas as nações. E ao mencionar Davi no início da genealogia, Mateus indica que Jesus é o tão esperado Rei que se sentará no trono para sempre.

3. Que vislumbres de graça podemos ver nela?

Quando lemos as genealogias, não devemos ficar surpresos em ver Deus cumprir suas promessas. Isso é o que Ele faz. As genealogias também revelam Deus mostrando sua graça de maneiras que um leitor do primeiro século acharia surpreendente.

A genealogia em Mateus 1, por exemplo, revela a graça de Deus em lugares inesperados. Ela menciona quatro mulheres: Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba, a quem ele se refere como “a esposa de Urias”. Nós poderíamos traçar a graça chocante de Deus em todas as quatro, mas vamos nos concentrar em Raabe e Rute. Compare essas mulheres – ambas nascidas fora da linhagem de Abraão – com as mulheres que Mateus poderia ter incluído. Ele não menciona Sara ou Rebeca, que desempenham papéis importantes na narrativa de Gênesis. Em vez disso, vemos Raabe, a prostituta de Jericó que tinha ouvido como Deus milagrosamente libertou Israel do Egito. Ela escondeu os espiões e furtivamente os mandou para fora da cidade (Js 2). Em seguida, ele se concentra em Rute, a viúva moabita que mostra fidelidade à sua sogra viúva e recebe a bênção da redenção através de Boaz.

Em ambos os casos, vemos Deus mostrar graça a forasteiros com históricos obscuros. Josué identifica Raabe por sua notória vocação, e Rute vem de um povo que tem sua origem na embriaguez, no engano e no incesto. O fato dessas duas mulheres com origens étnicas de fora de Israel serem destacadas na genealogia do Senhor Jesus mostra a graça de longo alcance de Deus ao acolher forasteiros em sua família.

Não as Negligencie

As genealogias desafiam cada leitor da Bíblia e cada expositor, mas também produzem o fruto de uma maior compreensão da narrativa bíblica, uma maior confiança nas promessas de Deus e uma maior apreciação da Graça de Deus. Como todo o resto das Escrituras, as genealogias carregam a marca da inspiração divina e nos equipam para boas obras.

Temos somente que desenvolver a capacidade para enxergar isto.

Traduzido por Nathan Marinho.

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