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A notícia é trágica: Boko Haram, a Província do Oeste Africano do Estado Islâmico, decapitou Lawan Andimi, o pastor nigeriano cujo vídeo como refém (e que se tornou um testemunho) divulgado no começo do mês motivou e inspirou a muitos.

Mais de três séculos se passaram desde que outro pastor, Thomas Brooks, refletiu sobre a tendência que Deus tem de estar bem próximo a seu povo quando a perseguição é mais intensa. Em Céu na Terra, Brooks explica que a certeza—uma das maiores dádivas que os filhos de Deus recebem do Pai—traz alegria à adoração e à oração, bem como força e ousadia para o nosso testemunho.

No trecho abaixo, este Puritano mostra como o Senhor dá uma certeza especial para aqueles que sofrem em seu nome, incluindo—e talvez especialmente—os mártires (Ap. 6:9-11). Que as palavras de Brooks incitem nossas orações por aqueles chamados para tal vocação, e pela família e rebanho do nosso irmão Nigeriano, agora promovido à glória.

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Tempos de sofrimento são tempos quando o Senhor se agrada em dar ao seu povo uma sensação de seu favor. Quando sofrem por causa da justiça, por causa do evangelho, então, geralmente, Deus faz Seu rosto resplandecer sobre eles. Agora, ouvem as melhores novas do céu quando ouvem as piores notícias da terra.

Deus ama sorrir mais para o seu povo quando o mundo lhes faz cara feia. Quando o mundo coloca suas correntes de ferro nas pernas, então Deus coloca correntes de ouro ao redor do seu pescoço. Quando o mundo lhes coloca um cálice amargo nas mãos, Deus derrama um pouco do seu mel, um pouco da sua bondade e doçura nele. Quando o mundo está pronto para apedrejá-los, então Deus lhes dá a pedra branca. Quando o mundo grita “Crucifica-os, crucifica-os”, então eles escutam aquela doce voz do céu, “Estes são meus amados, em quem me comprazo.”

Quando o mundo lhes range os dentes e ameaça torturas inimagináveis, então o Senhor abre para eles o paraíso, tal como fez com Estêvão. Quando Paulo e Silas estavam na prisão por causa do evangelho, então Deus os encheu com uma alegria tão indescritível, que eles não conseguiam parar de cantar enquanto os outros dormiam (Atos 16.23-24). Deus transformou sua prisão em um palácio, um paraíso, e eles converteram Suas misericórdias em louvor. Na prisāo, Paulo e Silas encontraram mais prazer do que dor, mais alegria do que aflição, mais doçura do que amargura, mais dia do que noite.

Ao Deus fazer seu rosto resplandecer sobre eles, os mártires cantavam ao serem queimados, batendo palmas nas chamas e caminhando sobre brasas ardentes como se fossem camas de rosas. Isso fez com que Vicentius dissesse, quando sentiu as chamas chegarem à sua barba, “Que dor pequena é essa, comparada com a glória por vir? O que é uma gota de vinagre derramada em um oceano de vinho? Que diferença faz ter um dia chuvoso, para quem vai tomar posse de um reino?” Os sorrisos de Deus fizeram com que Sanctus cantasse sob sofrimentos terríveis “Eu sou cristão”. E isto fez com que os cristãos cantassem na época de Tertuliano, “Tua crueldade é nossa glória”.

Para concluir, os sorrisos de Deus para os prisioneiros da esperança é o que os tornou mais alegres e felizes no sofrimento do que o próprio Jesus em seu sofrimento. Quando perguntaram a Faninus, um mártir italiano, por que ele estava tão feliz com sua morte, visto que o próprio Cristo ficou tão pesaroso: “Cristo,” disse ele, “suportou na sua alma todas as tristezas e conflitos com o inferno e a morte que deveriam ser nossos. Por Seu sofrimento somos libertos da tristeza e do medo de todos eles. Portanto, temos razão para nos alegrarmos nos piores sofrimentos.”

Agora, existem essas razões especiais a serem dadas, do por quê o Senhor se agrada em visitar seu povo com bondade em tempos de sofrimento e fazer resplandecer seu rosto sobre eles.

Para que sua paciência e constância sob a cruz pudesse ser insuperável.

Deus sabe muito bem que se em tempos de sofrimento, Sua mão esquerda não estiver debaixo de seu povo, e Sua mão direita, por cima deles, se ele não der a eles algumas gotas de doçura, uma amostra de bondade, eles rapidamente se tornariam impacientes e inconstantes. Ah, mas como os sorrisos de Deus, as descobertas graciosas de Deus, tornam sua paciência e constância insuperáveis, conforme foi com Vicentius, que, por sua paciência e constância, enlouqueceu seus carrascos. Eles o despiram completamente, açoitaram todo o seu corpo até escorrer sangue, salpicaram sal e vinagre sobre suas feridas, colocaram seus pés sobre carvão ardente, depois o lançaram nu em um calabouço repugnante, cujo chão era feito de conchas afiadas, e a cama onde se deitava era um feixe de espinhos. Tudo isso aquele mártir abençoado recebeu sem nem um gemido, revelando seu espírito com estas palavras “Vicentius é o meu nome e, pela graça de Deus, eu ainda serei Vicentius, apesar dos seus tormentos.” A perseguição por um lado traz morte e por outro traz vida, porque embora mate o corpo, ela coroa a alma.

Para a confirmação de alguns, para a conversão de outros, e para a maior convicção e confusão dos seus adversários, que se questionam, ficando maravilhados como homens, quando observam o conforto e a coragem dos santos em tempos de sofrimento.

Assim como o sofrimento dos santos contribui para a confirmação de alguns, então, pela bênção de Deus, eles contribuem para a conversão de outros (Fm 1.10). Era um dito ilustre de Lutero: “A igreja converte o mundo todo através do sangue e da oração”. Hegesippus relata uma observação de Antoninus, o imperador: “Que os cristãos eram sempre mais corajosos e confiantes durante terremotos, enquanto seus próprios soldados pagãos eram, em tais acidentes, os mais temerosos e abatidos”. Certamente, nenhum terremoto pode fazer o coração dos santos tremer, contanto que a face de Deus esteja resplandecendo sobre seus rostos, e o amor dele aqueça seus corações. Os santos que sofrem podem ser atacados mas não destruídos; podem ficar apreensivos mas jamais vencidos; podem perder o pescoço, mas jamais a coroa, que o justo Senhor já preparou e guardou para eles (2Tm 4.7-8).

Para o louvor da sua própria graça, e para a glória do seu próprio nome.

Deus perderia muito da sua própria glória se não ficasse ao lado do seu povo, confortando e fortalecendo-os nos dias da sua aflição. Isso dá mais importância à glória de Deus, que seu povo esteja animado e confortado, reanimado e levantado, espiritualizado e elevado no dia do seu sofrimento. Ah, a visão de um espírito tão nobre nos santos faz com que os outros admirem a Deus, engrandeçam a Deus, apaixonem-se por Deus e glorifiquem a Deus por reconhecer seu povo e por ser uma luz para eles na escuridão, alegria para eles na tristeza e um palácio para eles na prisão. (Dn 3.28-30; 6.25-27).

Tempos de crer são tempos quando o Senhor se agrada de forma graciosa em fazer resplandecer seu rosto sobre seu povo.

Quando seus filhos estão exercitando a fé, então o Senhor se agrada em demonstrar sua bondade e selá-los com alegria e bem-aventurança eternas (Ef 1.13). Aquele que honra a Cristo ao crer, com atos novos e frequentes de fé baseada nele, este é quem Cristo certamente honrará e protegerá colocando seu selo e sua marca sobre ele, e dando a ele a certeza de um reino que não se abala, de riquezas que não se corrompem, e de glória que não esmorece. A fé olha para Deus e diz com o salmista: “Este Deus é meu Deus, para sempre e sempre” (Sl 63.1, 48.4). Ela olha as promessas preciosas e diz “suas preciosas e mui grandes promessas sāo minhas” (2Pe 1.4). Ela olha para os céus e diz “Já agora a coroa da justiça me está guardada” (2Tm 4.8). E isto enche a alma de alegria e paz. A fé tem uma influência sobre outras graças. É como um fio de prata que passa por uma corrente de pérolas; ela reforça e dá vivacidade a todas as outras virtudes.

Nota do editor: Este é um trecho adaptado de Heaven on Earth, de Thomas Brooks (Banner of Truth Trust, 1961).

Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.

 

 

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