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Como Dizer ‘Deus É Fiel’ Quando o Sofrimento Não Para

Foi um ano difícil para mim. Minha esposa, Quina, e eu lidamos com sua exaustão no ministério e com problemas de saúde desencorajadores, junto com a morte de sua avó, problemas de relacionamento com pessoas que amamos, esperanças adiadas de conceber outro filho e a deportação de minha tia e tio.

Depois de vivenciar tantas orações respondidas em 2018, as orações não respondidas e os desejos não alcançados deste ano causaram um estrago em nossos corações. Você ora, jejua e age por algo — algo tão bom quanto a justiça ou a reconciliação ou a cura ou por um filho — mas a resposta continua sendo “Não” ou “Ainda não”. Descobri que meu coração pode muito facilmente se encher de amargura contra Deus, ao tentar reconciliar sua bondade com o sofrimento que está acontecendo ao meu redor.

Se Deus é o Deus da justiça, da reconciliação, da libertação, da vida, como seria confiar nele quando a injustiça ocorre, a divisão permanece e a morte parece nos zombar? Como podemos ainda proclamar com confiança: “Nosso Deus é fiel” — e fazê-lo sinceramente?

Libertação Em, e Não De

Primeiro, devemos reconhecer as maneiras como Deus está nos libertando em nossas provações, mesmo quando ele ainda não nos libertou de nossas provações. Ou, tal como disse Eliú: “Ao aflito livra por meio da sua aflição e pela opressão lhe abre os ouvidos” (Jó 36.15).

Eu estaria mentindo se dissesse que Deus não está me libertando em meio a estas provações. Senti minha compaixão se aprofundar pelos oprimidos, ao minha família e eu provarmos a injustiça de um sistema de imigração quebrado. Aprendi a servir melhor minha esposa em suas limitações de saúde e seu sofrimento. Tornei-me mais honesto em minha vida de oração, o que só me atraiu para mais perto de Deus ao invés de me afastar dele.

Talvez o mais doce bálsamo da graça em minhas provações este ano tenha sido a presença constante, as orações e o apoio de meus amigos e família da igreja. Eles tem compartilhado minhas provações de tal maneira que, mesmo quando não quero cre-lo não posso deixar de admitir que Deus me vê e se importa comigo.

Nosso Médico Ferido

Segundo, devemos saber que nosso Deus não é apenas um Deus que nos cura, mas também um Deus ferido que nos cura, tal como colocou Henri Nouwen. Como foi que Jesus curou nossas feridas de pecado? Por suas próprias pisaduras (Is 53.5).

Servimos ao único Deus com cicatrizes (Lc 24.39–40; Jo 20.20, 27; Ap 5.12). O único Deus disposto a se fazer carne humana e a vivenciar a dor e limitações humanas, que então assumiu todo o peso do pecado humano e viveu para contar a história.

Você conhece esse Deus? Ele é um Deus ferido que cura, que se compadece de nossas fraquezas e aflições. Ele é o Deus que se deu a si mesmo como sua maior dádiva. Mesmo na escuridão e à medida que a dor se instala, podemos proclamar: “Nosso Deus é fiel” — e podemos fazê-lo sinceramente.

Proclamá-lo em Lamentações

Por fim, podemos usar a voz e os dons que Deus nos deu para proclamarmos sua fidelidade. Como podemos fazer isto? Os salmistas sabiam fazê-lo bem: se lamentando.

Em seu livro Phrophetic Lament [Lamentações Proféticas], Soong Chan-Rah declarou: “a lamentação desafia a igreja a reconhecer o sofrimento real e a implorar a Deus por sua intervenção”. Como seria se as reuniões de sua família, seu pequeno grupo e sua igreja estivessem consistentemente marcadas por lamentações a Deus por injustiças e sofrimento? Talvez se parecessem um pouco mais com o próprio Cristo.

A lamentação bíblica nos conclama a expressar apaixonadamente nossa tristeza, nossas queixas, nossas perguntas e até mesmo nossa ira a Deus. Nos conclama a orações confusas, desarticuladas e com muito pranto. Nos conclama à honestidade quando alguém pergunta: “Como posso orar por você?” E exige que nossas pressuposições triunfais sobre a vida cristã sejam confrontadas pelo Salvador, que era “homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3).

Ao aprender a ter maior honestidade de alma com Deus e com os outros, a lamentação tem sido uma oportunidade desafiadora, mas refrescante para mim, de me apoiar mais profundamente nos braços do meu fiel Pai. Derramo meu coração a Deus em lamentação e me levanto com muito mais convicção de que ele é, de fato, fiel.

Uma Representação Mais Fiel

É fácil enxergarmos apenas os destaques da vida das pessoas nas mídias sociais. Mas espero que, em todos nossos vários chamados, possamos retratar com maior honestidade a caminhada cristã.

Aquela caminhada que inclui montanhas e vales. Muitos vales. Esta caminhada reconhece a libertação de nosso Deus ferido que cura, mesmo quando a escuridão ainda não se dissipou completamente. E esta caminhada é marcada pelo tipo de lamentação que exalta a fidelidade de Deus acima e além da nossa.

É assim que poderemos dizer: “Deus é fiel” — e podemos fazê-lo sinceramente.

Traduzido por Pedro Henrique Aquino.

 

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