×
Procurar

O falecido pioneiro do rock cristão Larry Norman cantava: “Todo mundo tem que escolher se vai ganhar ou perder, seguir a Deus ou cantar o blues, e com quem eles vão pecar”. Sempre considerei esta observação como bastante astuta. Porque no final das contas, todos nós estamos fazendo esta escolha.

Às vezes ouvimos alguém dizer que não vai à igreja porque está cheia de hipócritas. Definitivamente, isto é verdade. Mas não é como se o mundo exterior fosse algum tipo de zona livre de hipocrisia. Talvez observemos os mesmos tipos de pecados entre cristãos e não-cristãos, e esta é uma realidade dolorosa com a qual o Novo Testamento não é nem ignorante nem ambivalente a respeito. E, no entanto, uma coisa que a igreja tem a seu favor é que (a maior parte) das pessoas que se alinham a ela reconhecem que são pecadoras!

Isto é o que eu entendo que Larry Norman quis dizer – não que devamos escolher algumas pessoas para nos envolver voluntariamente no pecado, mas que somos todos pecadores, e vamos fracassar e nos engajar na desordem relacional, então por que não nos alinhar com outras pessoas que percebem isso e estão buscando ajuda de Jesus? Se não tenho escolha a não ser escolher uma cultura para “com quem pecar”, escolherei aquela que está em guerra contra esse pecado, me responsabilizando por este pecado – talvez até me disciplinando por isto – e constantemente apontando-me para o Jesus que perdoa o meu pecado, levando-o à cruz para matá-lo.

Todos nós temos que escolher com quem vamos pecar. Por que não escolher a igreja?

Se pudéssemos entender exatamente o que está acontecendo espiritualmente na confusa comunidade de pecadores arrependidos buscando ajuda de Deus através de Cristo, não seríamos tão relutantes em nos submergir em seus relacionamentos. O que nos impede de fazer isto, não importa nossas razões declaradas, é o espírito de Babel.

Você se lembra da história da Torre de Babel? As pessoas da terra buscavam construir uma torre alta, que fosse até o céu (Gn 11.1-9). Diziam abertamente suas razões para fazê-lo: “tornemos célebre o nosso nome” (11.4). Também estavam preocupados com a dispersão, então, de certa forma, eles estavam tentando vivenciar uma comunidade. Mas não o tipo de comunidade que Deus havia ordenado para eles. Esta tentativa de comunidade é edificada sobre o interesse próprio e a glória humana. Quem conhece a história, sabe o que acontece a seguir.

Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela. (11.8-9)

Esta não foi a entrada do pecado no mundo; isso aconteceu na queda da humanidade quando Adão desobedeceu. Mas este desastre antigo é outra grande explicação para por que nossas tentativas de relacionamentos e comunhão são tão cheias de dificuldades. Na realidade, estamos falando línguas diferentes. Eu estou tentando ter relacionamentos de uma maneira que me satisfaça; você está tentando ter relacionamentos de uma forma que o satisfaça. Não estamos na mesma página, e ambos pensamos que vamos perder se o outro não entrar na nossa.

Este caos relacional se torna parte do DNA comunitário ao longo da história que se segue. O povo de Deus nunca consegue se dar bem. Eles se voltam uns contra os outros e ficam muito à vontade com a idolatria das nações vizinhas. Mas quando pulamos adiante para o ministério terreno de Jesus e seus efeitos posteriores, vemos algo surpreendente. O que Deus havia dilacerado, ele estava começando a remontar.

Antes da morte e ressurreição de Jesus, ele diz a seus seguidores que vai “ir embora” para que ele possa enviar o Consolador para eles. E depois que ele sobe para o céu, ele cumpre sua promessa. O Espírito Santo desce oficialmente sobre a terra e o faz de forma dramática.

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.

Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus. Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? (At 2.1-12).

Isto significa que o Espírito está unindo de novo pela graça aquilo que havia sido desmembrado pelo pecado. O dia de Pentecostes é o desfazer da torre de Babel.

Através da obra unificadora do Espírito, os pecadores podem finalmente chegar à mesma página, porque o Espírito está nos ajudando a negarmos a nós mesmos, tomar nossa cruz e seguir a Jesus. E quando todos nós estamos de olho em Jesus, paramos de pensar em nossa própria glória e começamos a desfrutar da dele.

E esta nova comunidade reunida pelo poder do Espírito é uma nova humanidade, uma nova civilização dentro do mundo, uma nova cultura que vai contra as culturas concorrentes do mundo. E embora esta nova comunidade seja composta dos mesmos tipos de pecadores encontrados em outros lugares, é, no entanto, a única comunidade que vai prevalecer contra as portas do inferno (Mt 16.18).

Quando escolhemos pecar com o mundo, seguimos o caminho do mundo. Mas quando escolhemos nos unir aos pecadores-santos no corpo de Cristo, as mesmas pessoas com quem pecamos, são as pessoas com as quais iremos reinar.

Se vamos passar a eternidade com essas pessoas, provavelmente devemos começar a descobrir como viver com elas agora. Este é o ponto principal das relações humanas, realmente – glorificar a Deus vivendo graciosamente com os outros tal como Cristo viveu graciosamente conosco. Quando pensamos desta maneira, correr o risco de nos envolvermos em relacionamentos na igreja não é nenhum risco.

Extraído do meu livro Supernatural Power for Everyday People: Experiencing God’s Extraordinary Spirit in Your Ordinary Life [Poder Sobrenatural para Pessoas Comuns: Vivenciando o Espírito Extraordinário em Sua Vida Comum].

Traduzido por Thaísa Marques.

CARREGAR MAIS
Loading