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Conheci Paulo Anglada durante meus estudos no Seminário Presbiteriano do Norte, no início década de 80. A turma de Paulo era um ano mais antiga que a minha. Competente na língua grega, tornou-se monitor da matéria ainda estudante. Tive o privilégio de receber minhas primeiras instruções no grego através dele. Nossos caminhos se separaram depois da formatura, mas cedo haveriam de se cruzar outra vez.

Encontrei-me com Paulo outra vez poucos anos depois, na África do Sul, onde fomos fazer o mestrado em Novo Testamento pela Universidade de Potchefstroom. Ele já havia iniciado os estudos quando cheguei. Aquele tempo em que convivemos foi crucial para minha formação. Paulo me apresentou um coreano chamado Ken Do Young que estava fazendo o doutorado sobre a pregação de Martin Lloyd-Jones. Foi a primeira vez que ouvi (fita cassete) os sermões do Doutor e fui apresentado aos livros que ele escreveu. O ministério de Lloyd-Jones haveria de impactar o meu próprio ministério para sempre. Paulo também me levou para Kwasizabantu, na região da tribo dos zulus, não muito distante dali, onde desde 1966 Deus estava operando um grande avivamento espiritual, com milhares de conversões entre os zulus e outras tribos da África do Sul. Paulo me apresentou Erlo Stegen, o homem que Deus havia levantado para trazer esse avivamento. Ali meu coração e minha mente foram abertos para a grandiosa obra de Deus mediante seu Espírito em nossos dias. Foi também Paulo que me apresentou as primeiras noções de análise de discurso em grego, que mais tarde influenciariam profundamente o meu estilo de pregação expositiva.

Não posso esquecer os encontros semanais, onde reuníamos nossas famílias, juntamente com a família dos irmãos coreanos, para discutirmos e debatermos temas como avivamento, dons espirituais, santificação e as doutrinas da graça. Esses encontros fortaleceram minhas convicções reformadas. Nessa época Paulo estava enfrentando problemas graves em sua igreja no Brasil. Admirava-me de sua humildade, perseverança e firmeza no lidar com esses problemas.

De volta ao Brasil, nossos caminhos outra vez se separaram. Paulo retornou para sua querida Ananindeua, região da grande Belém, onde começou um ministério que continua a abençoar a muitos até o dia de hoje. Várias vezes tive oportunidade de pregar em sua “igrejinha,” como carinhosamente ele a chamava, e ministrar nos congressos de fé reformada que ele promoveu ali.

Embora Paulo tenha tomado a decisão de permanecer na região de Belém, seus livros influenciaram e abençoaram a igreja brasileira em todo país, pelo alto nível teológico e pelo caráter piedoso e pastoral. Paulo juntava em sua vida e ministério a piedade e o conhecimento de uma forma que poucas vezes encontrei em minha jornada.

Devo a Paulo Anglada grande parte de minha formação como cristão, pastor e expositor bíblico. Seu exemplo, seus escritos, sua piedade e sua firmeza me impactaram além do que posso descrever. Agora, ele entrou no descanso do seu Senhor, após servi-lo com fidelidade todos esses anos. A notícia de sua morte me trouxe profunda tristeza e abriu um vácuo em meu coração. Adeus, Paulo. Até breve. Em um pouco mais nossos caminhos se cruzarão outra vez. Desta feita, para sempre, nas terras santas além do Jordão.

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