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A Depressão e o Ministério: A Necessidade de Compartilhar com Sabedoria

Durante este último ano, tive o privilégio de trabalhar de perto com Paul Tripp desenvolvendo o Center for Pastoral Life and Care [Centro pela Vida e Cuidado Pastoral]. Esta experiência ampliou minha compreensão dos estresses e tentações específicas vivenciados por pastores no ministério, que informarão os comentários a seguir em relação às perguntas: “Quanto se deve compartilhar a respeito da depressão com a congregação? Como explicá-la?”.

Considerando a diversidade de culturas de igreja representadas no corpo de Cristo, não faz sentido ditar uma declaração abrangente sobre a quantidade adequada de informações a se compartilhar com uma congregação. Em vez disso, creio que seja mais benéfico considerar diversos componentes que podem servir para delinear uma decisão sábia quando um pastor pensa em revelar sua luta pessoal contra a depressão.

1. Se for casado, já compartilhou essa luta com sua esposa?

Os homens em geral tendem a ter problemas com a transparência de seus problemas pessoais. Quando se trata de depressão, o medo de parecer fraco ou menos espiritual pode levar o marido a se isolar e ficar em silêncio. Embora a pergunta se refira à comunidade da igreja como um todo, é indispensável que o pastor leve em conta a pessoa mais importante da sua comunidade—sua esposa. Esta é uma responsabilidade dos bispos ou presbíteros, pois sāo chamados a “governar bem a própria casa” (1Tm. 3.4). Confessar a depressão perante a igreja inteira sem antes ter tratado disto com a esposa, pode causar mais estresse na família e exacerbar a pressão emocional tanto sobre ele quanto sobre ela.

2. Já compartilhou sobre sua luta com os presbíteros ou com o conselho?

O livro de Provérbios diz: “Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros há segurança” (Pv. 11.14). Como pastor, resista a qualquer tentação de se isolar. O conceito de administração de igreja definido na Bíblia não foi estabelecido exclusivamente com propósito disciplinar. O ideal seria que a administração da igreja demonstrasse um forte carácter redentor, no qual o pastor pode compartilhar suas lutas com as autoridades da igreja, na esperança de receber encorajamento e sabedoria dos irmãos na fé. 1Tm 5.17, ilustra este espírito, onde Paulo instrui que “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. Quando a pessoa está espiritualmente desgastada, é sábio buscar a segurança que se encontra na abundância de conselheiros, para evitar decisões destrutivas que podem, no fim das contas, ser prejudiciais para o rebanho que ele lidera.

3. Tem buscado fomentar uma cultura transbordante do evangelho em sua igreja?

Meu pastor uma vez declarou em um sermão: “O evangelho não nos livra das lutas, mas nos deixa livres para lutar”. Esta declaração está relacionada com as palavras de Paulo em Rm 8.33-34: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará?”. Viver na liberdade que o evangelho de Jesus Cristo proporciona, liberta os crentes (incluindo pastores) de se colocarem debaixo do jugo de escravidão legalista (Gl. 5.1). Você tem buscado fomentar esta cultura em sua igreja? Tem apresentado um entendimento bíblico do evangelho no que diz respeito ao pecado e sofrimento, para preparar as pessoas de sua congregação a terem a expectativa que você é tão humano quanto eles? Ou, como pastor, tem fomentado uma visão de que você e os líderes devem ser imunes aos efeitos da depravação de um mundo caído? As respostas a estas perguntas informarão o quanto você deve compartilhar bem como a forma de explicar sua situação atual.

4. Reflita sobre sua motivação para compartilhar.

Por que deseja compartilhar com sua congregação? Seria uma maneira de aliviar um fardo pesado de culpa? Seria uma forma de escapar das pressões do ministério? Pessoas deprimidas anseiam por alívio e frequentemente usam medidas desesperadas para encontrá-lo. Ao consultar sua esposa, amigos próximos e os presbíteros, certifique-se de que o seu objetivo ao confessar e compartilhar está centrado no amor a Deus e ao próximo. Há um valor redentor profundo na transparência sábia.

Ao pensar no que compartilhar e em como fazê-lo com sua congregação, lembre-se de prezar a supremacia de Cristo no seu sofrimento. Deus está sempre trabalhando, e Sua intenção em tudo é bem específica: conformidade à imagem de Cristo (Rm. 8.28-29). Como será Jesus glorificado na sua confissão de uma batalha substancial contra a depressão? Como a sua própria luta pode ser uma forma de encorajar outros que estão passando por dificuldades? Tente emular o exemplo de Paulo quando ele compartilhou sua luta com o “espinho na carne” (2Co. 12.1-10). Busque valorizar a graça suficiente de Cristo ao expor sua vulnerabilidade a um mundo caído.

O Poder se Aperfeiçoa na Fraqueza

A lista de considerações para pastores que sofrem de depressão excede em muito o que se pode cobrir em um único artigo, mas os pontos acima podem servir como base. Estes aplicam-se também a “como” explicar. Sem dúvida, compartilhar suas lutas com os outros pode apresentar desafios importantes (além da depressão que você já está vivenciando). Nesses momentos, lembre-se do seu chamado, mesmo na fraqueza. Você é um embaixador do evangelho de Jesus Cristo! Mesmo o seu encontro com a escuridão emocional pode servir como oportunidade para ser testemunha desta mensagem sagrada. Paulo mencionou que estava disposto a enfrentar muitas dificuldades, aflições, calamidades, açoites e noites em claro para prevenir que qualquer obstáculo impedisse seus seguidores de ouvirem sua mensagem saturada de evangelho (2Co. 6.1-10). Que esta graça corajosa o leve a fazer o mesmo. Que Deus o guie em sabedoria neste ponto para que você, como Paulo, possa dizer no final (sem ter vergonha), “Para vós outros… abrem-se os nossos lábios, e alarga-se o nosso coração”(2Co. 6.11).

Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.

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