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Todo pastor tem uma rotina básica que segue a cada semana na preparação para pregar a Palavra de Deus no Dia do Senhor. Eu começo no domingo à noite, lendo o texto da próxima semana. Leio-o várias vezes, de forma meditativa, durante toda a semana. Na quarta-feira, já espero ter um esboço geral. Na sexta-feira à noite, espero já ter o sermão escrito. A cada dia, oro para que Deus prepare meu coração para pregar a sua Palavra. e o coração da congregação para receber a Palavra pelo poder do Espírito.

Última Etapa Crucial

A etapa final — que normalmente ocorre no sábado — é vital: faço a edição do sermão. Normalmente, eu o torno mais curto, mas também faço várias perguntas cruciais para me certificar de que ele está a atingir as seis metas fundamentais. Aqui estão as seis perguntas que me ajudam a alcançar essas metas:

1. Ele ajuda a congregação a entender melhor a Bíblia?

Ou, poderia perguntar desta forma: estou pregando / ensinando-lhes a Bíblia? Digo isto em dois sentidos:: O que eu estou ensinando a eles é uma explicação e interpretação fiel do texto em consideração? As palavras de Paulo em 2 Coríntios 4.5 são importantes aqui: “Pois não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor; e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus..” Devo pregar / ensinar o texto à minha frente e não qualquer outra coisa.

Faço esta pergunta também porque a boa pregação implica ensinar. Jesus, o mestre por excelência, foi chamado de “Rabino” — professor — o que é instrutivo. Quero que cada sermão ajude meu rebanho a aprender a interpretar e aplicar suas Bíblias com mais precisão. Que a descrição floreada e erudita dos sermões de um pregador batista da Virginia do final do século XIX, jamais seja verdade a nosso respeito: “Se seu sermão tivesse varíola, seu texto não estaria contaminado.” Desejo olhar em volta e ver as pessoas com seus olhos fitos na Palavra de Deus, examinando o texto para discernir de onde estou extraindo cada parte da minha exposição.

2. Ele está lhes mostrando a Cristo?

Em Colossenses 1:28, Paulo expressou esta tarefa central de forma sucinta: “o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” Vários pastores na história da igreja tiveram o pedido dos gregos em João 12.21 gravados na madeira de seus púlpitos: “Senhor, queríamos ver a Jesus.” Se eu não mostrar-lhes o Cristo, tanto em sua gloriosa pessoa e obra, em seus ofícios gloriosos, então de que forma a minha pregação é estritamente cristã? Ninguém além de Jesus pode tornar bons os pecadores impotentes.

Spurgeon coloca bem esta necessidade numa história onde um pastor ancião aconselhava um jovem pastor com palavras de sabedoria: “Pois em todo texto na Escritura existe uma estrada que leva à metrópole das Escrituras, que é Cristo. Portanto, meu querido irmão, quando você se deparar com um texto, seu objetivo será perguntar, ‘Onde é que está a estrada que leva a Cristo?’ e então pregar um sermão, que siga a estrada para a grande metrópole — Cristo. . . ou o sermão não poderá fazer bem nenhum, a menos que o aroma de Cristo esteja nele.” Em seu ministério aos Coríntios, Paulo propôs “nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (1 Co 2.2). Foque o telescópio em Jesus Cristo.

3. Ele humilha o orgulho do homem e exalta a graça de Deus?

Deixo eu qualquer brecha para o homem vangloriar-se em sua salvação ou santificação? Localizar o “foco da condição caída” de Bryan Chapell (Pregação Centrada em Cristo), é extremamente valioso aqui. A Escritura é clara: Encontramos os inimigos e estes somos nós. O homem tende a superestimar sua bondade e subestimar sua pecaminosidade, mas a Bíblia esclarece a situação: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?” (Jer 17:9).

Isto é precisamente o que Calvino abordou em sua famosa máxima na introdução das Institutas: “A verdadeira sabedoria consiste inteiramente do conhecimento de Deus e do conhecimento de nós mesmos.” Ao contrário da ortodoxia pregada nos púlpitos de uma cultura ocidental terapêutica, desejo que eles saibam que o problema principal está dentro deles e a solução está inteiramente fora deles. Ou seja, cada sermão deve ser centrado em Deus.

4. Ele promove santidade de coração e vida?

Cada texto da Escritura é sempre relevante. Não quero meramente repassar informações no sermão, mas confrontar a consciência com a verdade de tal modo que o Espírito use isso para convencer e transformar. Os puritanos buscavam ferir suas consciências com a lei de Deus e curá-la com o evangelho, um paradigma bíblico útil.

Um dos textos mais preocupantes em toda a Escritura é Hebreus 12:14, “Segui … a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” Assim, cada sermão precisa motivar os crentes a buscar a santificação impulsionada pela graça, evitando a todo custo os perigos gêmeos do legalismo e antinomismo, nenhum dos quais produz a piedade genuína.

5. Ele busca despertar os não convertidos?

Martyn Lloyd-Jones argumentou corretamente que cada sermão deve falar tanto aos convertidos como aos não convertidos. Em sua obra clássica Pregação & Pregadores, ele advertiu os pregadores a não “presumir que todos os que são membros da igreja, são. . . cristãos.” Lloyd-Jones observa ainda, que muitos dos que se sentam nos bancos da igreja semanalmente aceitaram os fatos do evangelho intelectualmente, mas nunca foram verdadeiramente despertados pelo Espírito Santo. Eles precisam do evangelho.

E, o mesmo evangelho que salva o perdido também santifica aquele que já foi encontrado. Um dos principais benefícios da pregação centrada no evangelho é que, como a própria Escritura, ela fala igualmente tanto ao crente quanto ao descrente. Desejo que cada sermão de alguma forma toque na pecaminosidade do homem e na graça resgatadora de Deus.

6. Ele comunica com clareza?

Em outras palavras, tornei simples as palavras e acessíveis os conceitos aos membros de minha congregação, explicando termos teológicos desconhecidos e utilizando padrões comuns de linguagem? Desejo que meus ouvintes provem do fruto do meu estudo das línguas originais, mas não que eles fitem a árvore. Raramente uso palavras gregas e hebraicas no púlpito. Quero que se maravilhem com a Palavra de Deus, não com a minha formação teológica ou habilidades de retórica.

Não desejo que a congregação veja a Palavra de Deus como algo fora do seu alcance, que é necessário obter diplomas avançados para envolver-se profundamente com as coisas de Deus. Quero convencer-los de que qualquer cristão cheio do Espírito Santo pode compreender plenamente, aplicar e deleitar-se nas verdades da Escritura. No final do século XIX na Inglaterra, um homem visitou duas igrejas no Dia do Senhor, uma pastoreada por um ministro famoso de alta cultura, a outra o Metropolitan Tabernacle, pastoreada por Spurgeon. Depois de visitar a primeira, o homem exclamou: “Que pregador!” Quando ele deixou o tabernáculo de Spurgeon, sua avaliação foi: “Que Salvador!” Quero que eles vejam e sintam a Cristo, e para que isto aconteça, tenho que pregar pura e simplesmente no poder e unção do Espírito de Deus.

Com tremor perante o texto

À medida que se aproxima das 11:00h no domingo, os sentimentos das palavras de John Piper apertam mais meu coração e mente: “Estou de pé e vigilante à beira do abismo da eternidade, falando para pessoas que esta semana poderão ultrapassar a beirada, quer estejam prontos ou não. Serei chamado a prestar contas pelo que eu disse lá.” De fato. Todas as manhãs de domingo são uma ocasião para tremores e total dependência do Senhor, não importa o quanto eu tenha me preparado de antemão.

Traduzido por Claudio L. Chagas.

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